Quem tudo quer tudo perde - A galinha dos ovos de ouro

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É bem provável que todos conheçam a fábula da “Galinha dos ovos de ouro” e seu dono cheio de cobiça que, não satisfeito por já possuir um bem tão extraordinário e precioso, decide sacrificar o pobre animal a fim de descobrir se dentro existia mais ouro...
Mas, afinal: como é que ele conseguiu adquirir uma galinha que põe ovos de ouro? Não é uma coisa que vemos todo dia, não é mesmo? Não podemos chegar à feira e dizer: “Olá, bom dia; dê-me uma galinha que põe dois ovos de ouro e um quilo de tomate, por favor!?”
Partindo dessa pergunta [re]adaptei a fábula “A galinha dos ovos de ouro”, explicando como o dono conseguiu adquirir essa preciosidade em primeiro lugar.
Juntando um conto de fadas e uma fábula, misturei bastante, adicionei uma dose de humor, uma pitada de diversão e o resultado dessa receita mistureba foi o que eu chamo de: CONTO DE FÁBULAS.

Afinal de contas: será que o interior da galinha é feito de ouro?


A galinha dos ovos de ouro

            João Paulo era um camponês que não possuía muitas terras nem grandes criações de animais; não tinha uma bela família nem muitos amigos, mas, possuía um bem incomum e extremamente raro: uma bela galinha que botava ovos de ouro!
            Creio que devo explicar como ele adquiriu este bem tão precioso…
            Bom, quando tinha por volta de doze anos de idade, João Paulo, que vivia com sua mãe nesta época, num casebre de madeira bem humilde e nada luxuoso, tinha apenas uma vaquinha como companhia (além de sua mãe, é claro).
            Os tempos eram duros e a crise assolava todos os lugares e cidades e vilas e vilarejos e fazendas do reino e, como não tinham sequer comida para suprir suas próprias necessidades alimentícias, a mãe de João Paulo chegou para o filho certa vez e disse:
            — Meu filho, vá até a vila e venda a vaquinha no mercado. Não temos mais como alimentá-la e, sinceramente, creio que será bem difícil conseguirmos vendê-la, mas, a esperança é a última que morre e entre ter uma boca a mais para alimentar ou algumas moedas para gastar, eu escolho as moedas.
            O menino ficou cabisbaixo porque era muito ligado a vaquinha, mas, tinha consciência de que sua mãe estava certa e era melhor vender o animal, assim, eles conseguiriam algumas moedas.
            Acredito que você consegue imaginar o que se sucedeu, a história de João Paulo é bem famosa e, para evitar me prolongar por muito tempo, resumirei em tópicos os pontos mais importantes da história de sua vida:
·                    João Paulo foi persuadido por um homem estranho que, ao invés de lhe dar moedas, trocou a vaca por feijões mágicos;
·                    A mãe de João Paulo ficou furiosa e jogou os feijões fora;
·                    Uma forte chuva regou a terra onde os feijões haviam caído, fazendo brotar um gigantesco pé de feijão;
·                    No topo do pé de feijão (que chegava a alturas que superavam as nuvens) tinha um exuberante castelo, habitado por um grotesco gigante mal-encarado;
·                    O gigante tinha alguns objetos mágicos e bens valiosos, dos quais João Paulo, utilizando de toda sua astúcia, perspicácia e malícia, conseguiu afanar a galinha dos ovos de ouro;
·                    O menino cortou o pé de feijão, fazendo com que o gigante fosse incapaz de segui-lo e recuperar o animal mágico.
Ufa! Acho que consegui contar a história de vida dele de maneira bem resumida. Mas deu para entender, né?
Então, João Paulo e sua mãe viveram confortavelmente, usufruindo das regalias compradas com a venda dos ovos de ouro da galinha mágica, porém, num trágico dia cinzento, quando as nuvens estavam tenebrosas e o vento cortava a pele de quem se atrevesse a sair de casa, a mãe de João faleceu. Tendo um triste fim caindo de um precipício…
O tempo foi passando e João Paulo, sem ter outra escolha, seguiu vivendo sua vida pacata. Evitava ao máximo o contato com outros seres humanos e raramente saía de sua casa (exceto para vender o ouro). Ficava apenas em companhia da galinha mágica que, a esta altura, era sua única fonte de renda.
            Todos os dias, assim que acordava, João Paulo dirigia-se ao galinheiro e encontrava um ovo de ouro. Era de lei: a galinha colocava um ovo de ouro por dia. Com o ouro diário, João conseguia viver confortavelmente; não tinha grandes riquezas, mas, com o ovo dourado, conseguia comprar alimentos e roupas, bem como manter a sua humilde casinha de maneira digna e agradável.
            Porém, uma crise se abateu no reino e João, querendo viver confortavelmente e melhorar sua situação sem precisar arranjar um emprego, teve uma ideia que considerou brilhante!
            Bom, se essa galinha põe um ovo de ouro por dia, é de se esperar que dentro dela tenha uma quantidade de ouro bem maior! – pensou consigo.
            Sacrificando o animal, João Paulo mal pôde conter o desespero e frustração que se abateram sobre ele quando abriu a galinha. Ela era igual a todas as outras do galinheiro, sem nem um vestígio de ouro dentro de si.
            Agora, João Paulo, o tolo, querendo uma vida fácil e muitas riquezas de uma só vez, acabou perdendo o ganho diário que tinha assegurado e precisou submeter-se ao primeiro emprego que encontrou pela frente.

            Moral: quem tudo quer tudo perde.