Resenha: Diário de Blumka



Sinopse: Blumka, a autora deste diário, vive na grande casa, junto com o Doutor Korczak, a Senhora Stefa e 200 crianças órfãs judias. Zygmus, que devolveu a liberdade a um peixe; Reginka, que enchia de luz as noites mais escuras com suas histórias; Pola, que decidiu cultivar uma ervilha em seu próprio ouvido; Chaim, que foi a júri por destruir um formigueiro; o pequeno Pedrinha, que ajudou a descarregar a carroça de carvão com seu penico... Blumka escreve sobre todos em seu diário, e, quando lhe faltam palavras, ela desenha. Até o dia em que a Guerra começa... e o diário é interrompido. Mas sua história fica registrada para sempre... 



          Os livros da Editora Pulo do Gato são peculiares em diversos aspectos. Sempre que recebo ou compro um livro do catálogo da editora tenho a certeza de ter em minhas mãos uma obra que resultará em vários debates e discussões e que, com certeza, expandirá os limites do que se espera de uma obra literária de qualidade.


          Fiquei muito contente ao ver que o livro a ser enviado no mês de outubro pelo Clube de Leitores da A Taba era um livro da Editora Pulo do Gato.


          Diário de Blumka inicialmente me chamou a atenção por dois motivos: o trabalho gráfico da capa [mais uma das peculiaridades da Pulo do Gato que oferece obras em diversas formas e tamanhos, com papéis de excelente qualidade e ilustrações que compõem obras fantásticas, fugindo do “lugar comum” que tanto encontramos nas obras infantis] e o título. Lendo o título você consegue ter uma ideia do que esperar da obra [impossível não criar um link com O Diário de Anne Frank].


          O livro, escrito por Iwona Chmielewska, une ficção a acontecimentos verídicos, o que nos permite mergulhar no universo do Doutor Korczak e suas crianças. As descrições dos “personagens” que compõem o orfanato são tão delicadas e de uma maneira tão real, soando mesmo como se uma criança nos estivesse contando os causos e características de cada um. Conseguimos nos familiarizar e nos relacionar com cada um dos personagens e suas peculiaridades.


          Mas, a meu ver, o “ponto alto” do livro são as descrições e registros a respeito do Doutor. Não pude deixar de me emocionar e me sentir completamente APAIXONADO por ele, pois, vi muito de mim no que li sobre ele.


“O Doutor sempre nos fala que toda criança tem o direito de guardar para si mesma todos os seus sonhos e os seus segredos. E ele também nos diz que a verdade sempre deve ser contada para as crianças.”
[páginas 40 e 41]


O trabalho que tento realizar e as mudanças que busco alcançar para com minhas crianças é totalmente embasado na afetividade e, lendo o Diário de Blumka, pude notar que o trabalho do Doutor era desta mesma maneira. A leitura foi extremamente emocionante para mim porque me enxerguei nele, no trato dele para com as crianças, no RESPEITO e valorização das características próprias da infância e, principalmente, pelo fato de ele NÃO SUBESTIMAR suas crianças. E isso é fantástico!


É muito bom encontrar um personagem onde você consegue ver e identificar tantas características maravilhosas e, ainda por cima, sentir-se mais inspirado para continuar e seguir em frente fazendo um trabalho transformador, visando as mudanças positivas na vida das crianças.


“O Doutor nos ensinou que as meninas e os meninos têm os mesmos direitos e podem fazer as mesmas coisas.”
[página 47]


Meu trecho favorito, que aqueceu meu coração [e que eu achei a “minha cara”] é:

“O Doutor sempre nos deixa fazer bagunça e barulho. Proibir uma criança de ser criança, ele diz, é como ordenar que seu coração pare de bater”
[página 59]


Isso é tão lindo e poético e cheio de vida que fez meus olhos marejarem enquanto eu sorria bobamente rememorando minhas próprias experiências com meus pequenos.


Diário de Blumka, como todo o catálogo da Editora Pulo do Gato, é uma obra ESSENCIAL. Rica em todos os aspectos, de uma beleza e leveza que farão todos os corações se aquecerem. Especialmente em tempos como estes em que estamos vivendo, um livro como Diário de Blumka se torna FUNDAMENTAL para podermos propor um debate franco com as crianças sobre todos os aspectos negativos que já ocorreram na história da humanidade e, principalmente, pelas discrepâncias que vêm acontecendo na atualidade. Por meio da história de Blumka e das crianças do Doutor Korczak você pai, tio, avô, educador poderá conversar com seu pequeno de uma maneira leve, mas, completamente profunda sobre “assuntos delicados”, porém, indispensáveis para o crescimento pessoal e formação de um cidadão crítico/reflexivo, capaz de [re]pensar sua própria existência e auxiliar para a efetivação de mudanças no meio social em que vive.


Para “fechar com chave de ouro” ao final do livro a editora ainda deixa um recadinho do coração que faz você fechar o livro com um grande sorriso nos lábios:



“A Editora Pulo do Gato dedica este livro a todos os educadores que, como Janusz Korczak, sabem como amar uma criança.”


*Livro recebido no mês de outubro pelo Clube de Leitores da A Taba.

Diário de Blumka

Autor: Iwona Chmielewska
Número de páginas: 72 páginas
Editora: Pulo do Gato  
Compre na Amazon clicando aqui

Onde está a salvação? ✝


Nos últimos anos, para além de minhas atividades remuneradas, tenho me dedicado à realização de trabalhos voluntários, contando histórias, auxiliando crianças a fazerem trabalhos escolares e, atualmente, abrindo as portas de minha casa com meu Espaço de Leitura.


O Helder de hoje está a anos-luz de distância do Helder de outrora, mas, infelizmente, algumas pessoas não conseguem percebê-lo. Tudo o que veem de imediato são os trejeitos.
A pinta.
A homossexualidade [se me conhecessem um pouquinho mais saberiam que há muito mais sob a superfície, como o fato de eu não ser homossexual, mas, assexual homorromântico].


E é aí que entra a minha pergunta título do post: onde está a salvação?


Pelo que entendo a salvação está em ser uma pessoa boa, espalhar amor e amar um ao outro, sem ver a quem. Mas, me parece que muitos acreditam que a salvação está entre algumas paredes de tijolos.
Num edifício.
Numa igreja.


Quanto aos frequentadores de igrejas: o que eles realmente fazem para merecer a dita salvação?


Ir ao culto e julgar a roupa das irmãs traz salvação?


Ir ao culto e utilizar o pátio da igreja para destilar veneno contra os outros traz salvação?


O que você, querido irmão em Cristo, está fazendo para “merecer” a salvação?


[...]


Sigo fazendo meu trabalho, tendo a afetividade como fio condutor de todo e qualquer de meus atos.


Mudar o mundo, um passo de cada vez, é a minha missão pessoal.


Se a salvação significa propagar a discórdia e levar uma vida embasada em julgamentos, perdoe-me, mas, prefiro não ser salvo.