Refúgio Literário



(…) Sempre gostei de me refugiar na leitura. Especialmente naqueles momentos em que tudo por dentro parece uma grande cacofonia, vozes, pensamentos e inquietações em profusão que, por vezes, me fazem não conseguir manter o foco e a concentração.


Adoro os meus silêncios. Anseio. Preciso deles. Mas, confesso, muitas vezes é difícil conseguir entrar naquela zona espiritual que me permite aproveitá-los por completo.


No entanto, ao abrir as páginas de um livro, sinto como se as palavras agissem como um filtro, suavizando a tempestade interna e guiando-me para um oásis de calma (por mais que, em muitos casos, estou lendo livros que são verdadeiras pancadas).


É como se cada frase fosse um fio condutor, tecendo uma trégua entre o tumulto mental e a serenidade desejada. A leitura torna-se, assim, não apenas um escape, mas uma jornada para encontrar a harmonia nos meus próprios silêncios.


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Resenha: O avesso da pele

Sinopse: Um romance sobre identidade e as complexas relações raciais, sobre violência e negritude, O avesso da pele é uma obra contundente no panorama da nova ficção literária brasileira.

Vencedor do Prêmio Jabuti na categoria “Romance Literário”. 

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Em 'O Avesso da Pele', Jeferson Tenório desenha um poema em prosa que transcende as palavras. A narrativa, tão sensível quanto brutal, desvela as cicatrizes da vida de Pedro, catapultado pela tragédia da morte paterna.


Num país onde o racismo é uma sombra onipresente e o sistema educacional é um eco de falhas estruturais, Tenório tece uma tapeçaria literária que é, simultaneamente, um grito de resistência e um lamento pela realidade.


A busca de Pedro pelo passado da família e pelos caminhos paternos é uma jornada pelas entranhas de um Brasil marcado pela intolerância.


Aqui, as relações entre pais e filhos são despidas de ilusões, revelando complexidades tão profundas quanto as raízes de uma árvore ancestral.


A vida de Pedro é um eco das fraturas existenciais inevitáveis de sua condição negra num país que ainda engatinha na superação de suas próprias limitações.


Nesse processo de dor, acerto de contas e busca por redenção, Tenório esculpe uma obra que é um convite à reflexão poética e um manifesto pela liberdade que transcende as páginas, ecoando no leitor como uma sinfonia de verdades inquietantes.


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- Livro: O avesso da pele.

- Autor: Jeferson Tenório.

- Editora: Companhia das Letras .

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Resenha: Certidão de nascimento poético

Sinopse: A poesia quando nasce muda os sentidos. Quem a carrega nos braços comove-se. Muda a origem do ser e leva consigo a esperança em um Portador dos Sonhos.
 

André Neves possui uma capacidade única e singular de nos arrebatar poeticamente.


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Em seu novo lançamento “Certidão de nascimento poético”, ele nos brinda com um percurso por avenidas, ruas e vielas poéticas que nos transmitem emoções inenarráveis, daquelas que guardamos dentro de nós, com sabor de infância e que nos deixa mel na boca feito sorriso de criança.

É muito raro encontrarmos autores que conseguem brincar com as palavras de uma maneira tão leve e envolvente que nos faz ficar entre nuvens, saboreando as poesias que nos compõem, que nos cercam e nos arrebatam.

Na essência da linguagem poética, encontramos um convite para transcender os limites do ordinário, mergulhando nas profundezas da alma humana.

O que André faz aqui é uma melodia que ecoa a transformação sutil e poderosa que a poesia opera nos sentidos, ressignificando a própria origem do ser. É como se, ao “segurar a poesia nos braços”, nos entregássemos a um ritual íntimo, onde as palavras dançam e se entrelaçam, comovendo-nos numa sinfonia de emoções.

A poesia, aqui personificada como um “Portador dos Sonhos” (dentro de nós ou dentro do livro?), tece fios de esperança, delineando horizontes onde a imaginação é livre para alçar voos inexplorados.

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Este é um convite à contemplação, uma celebração da magia que reside nas entrelinhas do poético, onde as palavras se tornam portadoras de sonhos, conduzindo-nos a um reino onde a beleza se revela nas nuances da linguagem.

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André nos faz (re)nascer com uma obra potente, sensível e carregada de signos e significados. Transbordando poesia página a página, nos transportando a novos lugares e vivências, mudando os tons que nos permeiam e fazendo melodia em forma de infância.


-Livro: Certidão de Nascimento Poético.

-Autor: André Neves.

-Editora: Abacatte.

Resenha: Uma noite muito, muito estrelada

 

Sinopse: Diante do ambiente árido e opressor da casa e da escola, uma menina vai se fechando, cada vez mais, para o mundo ao seu redor. Filha única de pais ocupados e distantes, a garota sofre de problemas cada vez mais frequentes, principalmente nas grandes cidades: solidão, tédio, incomunicabilidade, pressão na escola, dificuldade de expressar sentimentos e de estabelecer amizades. Seu dia a dia caminha arrastado entre o sonho e a realidade até que ela conhece um garoto tão solitário quanto ela, com quem passa a compartilhar medos, desejos e alegrias. Em companhia dele aventura-se nas montanhas, à procura da noite estrelada que costumava admirar com o avô que morreu. Do mesmo modo repentino como o amigo veio, ele se foi, mas não sem deixar para ela um presente e a possibilidade de imprimir em seu cotidiano o brilho daquele céu de verão.


“Para as crianças que não conseguem se comunicar com o mundo.”

Impossível não se emocionar, perder-se por completo e, ao final, querer morar nas páginas de “Uma noite muito muito estrelada”!
Eu, de imediato, me relacionei com a protagonista. Vi muito de mim, do Helder criança, nela. Introspectivo, incapaz de externar suas angústias e tudo aquilo que lhe inquieta por dentro…
“Apesar de ter alguns amigos, ainda sinto uma solidão que não sei bem como explicar.”
O livro é ARTE pura. Em todos os sentidos! As ilustrações são um deslumbre, indescritíveis [sério, corram!].
Diante do ambiente árido e opressor da casa e da escola, uma menina vai se fechando, cada vez mais, para o mundo ao seu redor. Filha única de pais ocupados e distantes, a garota sofre de problemas cada vez mais frequentes, principalmente nas grandes cidades: solidão, tédio, incomunicabilidade, pressão na escola, dificuldade de expressar sentimentos e de estabelecer amizades.
Recebi essa obra-prima como doação aqui para o Espaço de uma pessoa muito querida e iluminada. Ainda hoje, depois de meses que o recebi, não consigo descrevê-lo ou dimensionar tudo o que senti com sua leitura.
O dia a dia da menina caminha arrastado entre o sonho e a realidade até que ela conhece um garoto tão solitário quanto ela, com quem passa a compartilhar medos, desejos e alegrias.
O livro, desde a primeira leitura, me remeteu MUITO ao Studio Ghibli, especialmente à “Memórias de Ontem”. Não sei se porque, quando o recebi, tinha acabado de ver o filme, mas, a obra, em todo momento, nos faz mergulhar nesse universo poético, sensível, belo e melancólico de uma infância que “foge” daquele padrão estereotipado, do “lugar comum”.
Alguns dizem que tenho a tendência de gostar de “livros tristes”, de me envolver muito com a melancolia… confesso: amo quando vejo um livro assim, me sinto representado. Percebo, hoje, aos trinta e três anos que, de fato, está tudo bem abraçar sua melancolia, não ser como os outros e viver no ritmo de uma melodia diferente. É isso que nos torna únicos e o mundo tão diverso.
Sem intenção de moralizar ou ensinar algo, Jimmy Liao nos apresenta um retrato comovente da infância.


UMA NOITE MUITO, MUITO ESTRELADA

Autor: Jimmy Liao.
Número de páginas: 144 páginas.
Editora: SM.
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O B R I G A D O

 

“Em 2020, em meio à pandemia que escancara a fragilidade humana, revelando a importância das artes e dos afetos a salvaguardar nossa sobrevivência emocional, a editora Pulo do Gato tem a honra de celebrar, com a publicação deste livro, os 25 anos de carreira do escritor e ilustrador André Neves.

Viva a poesia e viva o poeta!”

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Devo iniciar confessando que possuo grande dificuldade para escrever sobre aquilo que amo. Quando digo amo, quero falar daquele AMOR VERDADEIRO, que nos invade, nos completa, nos transborda e nos faz transcender…

Esta é a minha relação com a obra de André Neves. Uma relação de AMOR. Genuíno. Intenso. Complexo.

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Com “Obrigado” André alcança algo inimaginável! Consegue transpor e transcender sua própria obra, saudando e brindando aqueles que lhe são caros, que fizeram e ainda fazem parte de sua vida e, neste percurso, nos permite adentrar em seu universo poético particular fazendo, assim, com que alcancemos um estágio de poetização da vida ESPETACULAR.

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Ainda me vejo aqui, mergulhado nessas “palavras com imagens sonhadas”, deslumbrado, como quando peguei o livro pela primeira vez.

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Uma das coisas que mais amei foi a "autoreferência" ao Obrigado, que vem presente em todas as ilustrações, ora mais explicitamente, ora de maneira mais discreta. Parece-me que eles (poetas) estão dialogando com o autor, o "Pequeno André", que os conta o que eles diriam, como se tivesse partilhando um segredo há muito tempo compartilhado e esquecido... Bem como vão conversando também com os colegas ao lerem, nas páginas do Obrigado que trazem nas mãos, o que diriam se fossem "pequenos".

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OBRIGADO, a meu ver, se tornou uma experiência de IMERSÃO. Mergulhamos, desde os primeiros rascunhos postados por André, passando pelas (sensacionais!) lives imaginárias e chegando ao livro, enquanto objeto, num MAR que ora nos nocauteia completamente, fazendo com que precisemos subir à superfície e recobrar o fôlego, ora nos abraça e, sutilmente, nos arrebata.


"Às vezes penso imagens com palavras.

É meu jeito de oferecer uma prece à minha infância.

Como acontece?

Não sei.

Acho mesmo que acontece sem acontecer.

É sonho grudado no olho agitando a fantasia."


André, correndo o risco de ser repetitivo (como sempre o sou), preciso dizer, mais uma vez: suas palavras me tocam, invadem, preenchem e fazem tudo que sinto, tudo que existe dentro de mim, assumir novas formas. Uma mutação de vida que nunca havia imaginado.

Suas ilustrações me encantam de tal maneira que, por mais piegas que possa parecer, não consigo expressar em palavras!

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Mais uma vez lhe agradeço. Por ser quem és. Por fazer o que fazes. Por se permitir e, em contrapartida, NOS PERMITIR.

Sentir. Ser. Estar.

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OBRIGADO!


OBRIGADO



Autor: André Neves ❤️

Número de Páginas: 64 páginas.

Editora: Pulo do Gato ❤️

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Resenha: Lívio Lavanda

 


Durante este isolamento social tenho reaprendido a "olhar para dentro" de mim. Tenho redescoberto memórias. Revivido recordações. Apreciado os pequenos prazeres.
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Lívio Lavanda tem um varal de recordações. Nele, pendura tudo o que vale a pena ser lembrado, como o dia em que conheceu o mar ou quando tricotou um cachecol de amor para Anelise...
Com uma curiosidade e uma imaginação sem limites, ele faz de seu cotidiano pura poesia.
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No planejamento desta semana, propus às crianças que fizessem, junto a seus familiares, seus próprios varais de recordações. Também estou fazendo o meu e em breve socializaremos uns com os outros.
Talvez, neste momento, devamos "mudar a direção" de nosso foco, considerando o emocional de nossas crianças. Suas vivências em meio a uma Pandemia.
Talvez seja hora de não se pensar tanto em habilidades ou descritores, mas sim em saúde mental e emocional...
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Que todos nós consigamos ser mais como Lívio Lavanda, dispostos a apreciar a poesia que a vida é.
Que plantemos nossas ideias em vasos, para que cresçam e virem belos poemas.
Que percebamos que a felicidade começa DENTRO de nós...
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Fiquem bem. Por favor!

LÍVIO LAVANDA

Autor: Michael Roher.
Número de páginas: 48 páginas.
Editora: SM Edições.

Resenha: Nuno e as coisas incríveis


Sinopse: Nuno enxergava o mundo por intermédio das imagens. Sua imaginação clareava os tons mais escuros das folhas de papel. Num desses rabiscos, ele encontrou Nina, que rabiscava com palavras. Mas Nina não conseguiu enxergar a vida a partir dos olhos de Nuno, nem perceber que ele contava o que as palavras não conseguiam expressar.

 

É muito “engraçado” como a vida é repleta de ciclos, não é?

Talvez engraçado não seja a palavra correta, mas, sei que vocês irão me entender...

 

Conheço o trabalho do André Neves há uns bons anos. Mas, nos últimos três anos, em especial, considero que houve um “estreitamento” em nossa relação.

Talvez por conta do amadurecimento profissional/pessoal que tive. Ou por ter aprimorado meu olhar poético… não sei explicar! O fato é que, atualmente, sinto uma conexão quase que simbiótica com seus livros.

 

A sensibilidade de seus textos unida a suas impactantes ilustrações, me deixam, a cada leitura, embasbacado, numa profusão de sentimentos.

 

Em “Nuno e as coisas incríveis” conhecemos um garoto que se expressa por meio das imagens, se equilibrando na imaginação e encontrando a inspiração escondida em todos os lugares.

 

Certo dia, na melodia do destino Nuno conhece Nina. E se encanta! Nina adorava as palavras e a transformava em arte.

 

Nuno resolve fazer um desenho para Nina. Deposita suas emoções e sentimentos nesse processo. Nina faz “pouco caso” do presente que recebe… E aí, meus amigos, se você ainda não tiver sido arrebatado pelos sentimentos durante a leitura, acontece a magia: ao invés de se permitir abalar, oprimir ou destruir, Nuno [numa sequência ESPETACULAR de ilustrações do André!] resolve fazer um mural de coisas incríveis. Quando vemos Nuno pensando em rasgar seus desenhos, a ilustração mostra o personagem entre uma casa partida ao meio. Daí, depois de fazer o mural das coisas incríveis, vemos uma sequência de “costuras” que entremeiam as páginas e mantém a casa inteira. SENSACIONAL, apenas! [não consigo explicar muito bem em palavras, rs].

 

Este livro é carregado de memórias afetivas. O ano de dois mil e dezenove foi extremamente difícil, por inúmeros motivos, na escola em que trabalhava. Porém, equivalente às situações complicadas houveram outras permeadas de afeto e partilha. Mantive um Clube de Leitura na escola e, na última semana de aula, realizamos a leitura de Nuno.

 

Havia um garoto que esteve presente em TODOS os momentos de leitura. Meu xodó! Pequenino como era, se aninhava em meu colo para ouvir as histórias [o que deixava as outras crianças morrendo de ciúmes! Mas isso é história pra outro dia]. Ao término da leitura de Nuno, debatemos e conversamos como sempre e, por se tratar da última semana, deixei todo mundo mais à vontade: alguns foram brincar, outros correr e alguns, como o pequenino, ficaram comigo para desenhar. Propus que pensássemos e desenhássemos nossas próprias coisas incríveis. Ele, no auge de seu pequenino tamanho, conseguiu me desmontar por inteiro: em seu desenho fez uma representação minha, dentro da escola, com um exemplar de Nuno nas mãos e o coração na garganta, porque eu amava ler e falar.

 

“Adormecer no futuro é sonhar em reticências…”

 

“Nuno e as coisas incríveis” é mais um primor de André Neves. Uma obra sensível, carregada de expressão e impacto. Um olhar para além da superfície. Íntimo. Um [re]encontro com tudo aquilo de incrível que há em nós.

 

“E só alguns percebiam

Como ele libertava

O que as palavras

Não conseguiam expressar.”


 *Ontem, 15/06, aconteceu lá no meu Instagram a leitura e um bate-papo sobre este livro. Está salvo no IGVT. Dê uma conferida! @helderguastti


NUNO E AS COISAS INCRÍVEIS

 

Autor: André Neves.

Número de páginas: 42 páginas.

Editora: Jujuba.

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