Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas

Leitura no horário de recreio.

    Ao realizar minhas compras de livros e/ou fazer uma seleção para trabalhar com os pequenos, busco sempre por títulos que fujam do convencional, que saiam da mesmice dos contos de fadas (nada contra o comum, só quero mostrar mais para as crianças).

    Conheci o autor Flávio de Souza através do livro "Nove Chapeuzinhos" (traz nove versões da história de Chapeuzinho Vermelho, em tempos e espaços diversos) e foi amor à primeira leitura! Fiz algumas pesquisas à respeito dele e a cada nova informação e dado conhecido fui me encantando cada vez mais. Para mim ele é uma grande inspiração! Tem uma mente excepcionalmente criativa e uma maneira muito peculiar de escrever, é impossível uma criança (e adulto também!) não se envolver e maravilhar com suas histórias.

    O livro que finalizei hoje com meus alunos foi "Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas". Como o horário de recreio é muito curto, nós dividimos a leitura em capítulos, adequando-os ao tempo que temos à nossa disposição. Lemos o livro inteiro em mais ou menos duas semanas.

    A história conta sobre uma menina que não conseguia dormir de jeito nenhum ( quem nunca passou por isso não é mesmo?... E ela, como toda criança sabida, decide tentar contar uma história para ela mesma, a fim de facilitar a chegada do sono e não incomodar os pais que já estavam dormindo. Mas, como é de se esperar, essa ideia não funciona, porque não há nada melhor do que ter alguém nos contando uma história incrível e fantástica. Ela decide chamar a mãe, mas quem aparece é o pai, de pijamas, meio sonolento e sem saber ao certo como contar uma história. E é a partir daí que a aventura começa!       

    O pai da menina mistura várias histórias e referências à contos de fadas numa história única e espetacular! Ao fim do livro a menina que estava ouvindo a história, os personagens e o leitor ficam maravilhados e extasiados com todas as aventuras experienciadas a cada virar de página!

    Considero esse livro fantástico e indico para quem trabalha com crianças, para quem tem filhos, sobrinhos e, também, para quem adora se divertir e se encantar com uma leitura gostosa e agradável.

    Fada, coelho, bruxa, sapo, príncipe, mágico, porquinhos, anões...Em "Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas" você encontra de tudo um pouco, principalmente diversão!

Site do autor Flávio de Souzahttp://www.flaviodesouza.com.br/



Chapeuzinho Adormecida no País das Maravilhas

Sinopse: Ao contar uma história para a filha que não consegue dormir, um pai mistura vários contos de fadas na história de Chapeuzinho Vermelho. Na confusão, aparecem o coelho apressado de Alice no País das Maravilhas, um mágico que remete a O Mágico de Oz, uma bruxa má, entre outros personagens clássicos. Mas o que inicialmente parecia confuso resulta numa bela surpresa! 
Autor: Flávio de Souza
72 páginas
Editora FTD
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Confabulando

[...] Na escola em que trabalho é desenvolvido o Projeto "Narrativas Literárias". O Projeto subdivide-se em "categorias", cada turma/série tem uma temática diferente a ser desenvolvida (os temas a serem trabalhados são diversos: Fábulas, Contos de Assombração, Pequena Enciclopédia, Lendas, Brincadeiras Cantadas, entre outros).

Em uma das turmas que trabalho estamos desenvolvendo o Projeto Fábulas. No decorrer das aulas vamos apresentando fábulas "clássicas" e já conhecidas pelas crianças, bem como diferentes versões delas.

Uma das atividades recorrentes no desenvolvimento do Projeto Fábulas é a reescrita. Propomos às crianças que reescrevam as fábulas, utilizando seus conhecimentos prévios, adicionando detalhes, nuances diferentes e abusando da criatividade.

Uma das características marcantes das fábulas é a "Moral", que geralmente vem escrita ao final do texto. 
Muitos não concordam e acham desnecessário um texto que venha trazer um ensinamento ou uma moral de maneira explícita, porém, em minha opinião, acho extremamente válido, para a proposta das fábulas, o texto vir acompanhado de uma "lição" ao final. 
Por mais que nas fábulas os personagens sejam em sua maioria animais com características humanas, os ensinamentos e reflexões propostos por elas são infinitos. As possibilidades de trabalhos com as fábulas são inúmeras e cabe ao professor fazer bom uso delas e instigar seus alunos se interessarem e mergulharem no universo dos bichos falantes, tão parecidos conosco.

[...]

Sempre que meus alunos fazem uma reescrita eu gosto de participar também, fazendo minha própria adaptação da fábula trabalhada no momento.

Compartilharei algumas de minhas próprias versões para fábulas clássicas. Nessas reescritas busco manter sempre a "estrutura" do texto original, porém, adicionando alguns detalhes e aprofundamentos à história.

[...] 

A cigarra e a Formiga
(fábula adaptada por Helder Guastti)

    Numa clareira, no centro da floresta, há um mundo por muitos desconhecido. O reino dos insetos parece ser invisível aos olhos do povo grande, mas isso não quer dizer que ele não exista. Habitado por toda sorte de bichos, de cigarras à formigas, de mosquitos à pernilongos...
    As formigas, cujo número de habitantes compara-se ao da China, são conhecidas por sua dedicação e eficácia no trabalho. Muito organizadas, subdividem-se em classes operárias para realizarem o trabalho de maneira sistematizada (algumas são responsáveis por encontrar restos de doces e carregá-los para o estoque do formigueiro, outras ficam por conta da seleção e transporte de folhas suculentas, etc.).
    Em uma tarde de calor escaldante, num dos verões mais quentes de toda história, uma equipe trabalhava arduamente selecionando, cortando, recolhendo e transportando folhas verdinhas da área de trabalho até o formigueiro, lideradas por Inês, a formiga responsável por aquelas operárias.
    - Foco, força e formigas unidas! O calor está de matar, mas o inverno iremos superar! - gritava Inês, motivando sua equipe de trabalho enquanto selecionava e cortava algumas folhas.
    Apesar de o calor estar sufocante, as formigas trabalhavam com prazer e disposição, pois, sabiam que estariam confortáveis no inverno.
    Trabalhando imersas em sua rotina exaustiva, as formigas mal notaram a melodia alegre e festiva que vinha da pequena pedreira.
    Sentada de maneira despojada e despreocupada, com a inseparável viola à tira colo, estava Florence, a cigarra. Conhecida pelo bom humor e por já ter perdido alguns amigos para não perder a piada, ela curtia a vida como se não houvesse amanhã. Especialmente no verão, sua estação favorita, Florence gostava de ficar ao ar livre, sentindo o vento quente e admirando o céu azul sem nuvens, enquanto dedilhava sua viola.
    - Ô lá lá lá lá lá lá ô! Ai como eu amo esse calor! Ô lá lá lá lá lá lá ô! Trabalhando eu não tô! - cantarolava, vendo ao longe as pobres e dissimuladas formigas trabalhando ao invés de curtirem o verão. - Que Vênus tenha misericórdia dessas criaturas! Será que elas não vêem este dia tão lindo? Vão se arrepender quando o verão acabar, disso eu tenho certeza!
    O tempo passou.
    O verão acabou.
    O inverno chegou.
    E a cigarra, coitada, se lascou!
    Revirando sua casinha de cima a baixo, de um lado para o outro, Florence entrou em desespero, não havia uma migalha sequer para matar sua fome! Agora, a única melodia que se fazia ouvir em sua casa, era o som de seu estômago roncando.
    - Pelos cabelos de Vênus! O que será de mim? - lamentou-se a cigarra em meio aos rugidos de seu estômago. Num lampejo ela teve uma ideia e disse, meio que para si mesma, meio que para seu estômago:
    - Já sei! Irei até o formigueiro, as formigas trabalharam tanto no verão que hão de ter alguma sobra para eu saciar minha fome.
    Caminhando com muita dificuldade por causa da grossa camada de neve que cobria o chão, Florence chegou ao formigueiro.
    Foi recebida por uma operária que a levou até Inês, responsável pelo corte de folhas.
    - O que posso fazer por você companheira? - indagou a formiga num tom afetuoso, porém, autoritário.
    Limpando a garganta e tentando abafar o barulho dos roncos de seu estômago, a cigarra falou, em tom suplicante:
    - Oh, grande mestra das operárias! Eu lhe peço; não, eu lhe imploro! Por favor, tenha misericórdia dessa alma bondosa, me dê algo para comer. - uma lágrima escorreu pela face de Florence.
    Com um olhar penetrante e semblante austero, Inês respondeu:
    - Nós trabalhamos o verão inteiro, do nascer ao pôr do sol, independente de quão quente estava a temperatura, portanto, te pergunto: e você, o que fez no verão?
    - Os dias estavam tão lindos, que passei o verão inteiro cantando... - respondeu a cigarra, sentindo as bochechas queimando.
    - Ah, mas que maravilha! - disse a formiga com ironia - Já que passou o verão inteiro cantando, que passe agora o inverno dançando! Ao som dos roncos do seu estômago, é claro!
    Florence, a cigarra, mal teve tempo de processar a fala da formiga que, assim que terminou de falar, ordenou que as operárias tirassem aquela indigente dali.
    Em meio à uma nevasca terrível, Florence tomou o caminho de volta para casa, mas, sem perceber, foi acometida por um formigamento em suas patas; sentada no chão, com as lágrimas congelando sua face, Florence terminou ouvindo uma melodia harmoniosa: o som do vento uivante e os rugidos de seu estômago suplicante.

    Moral: os preguiçosos colhem o que merecem.




Sobre [re]começos e palavras aprisionadas

[...] acho que não há uma maneira correta ou mais adequada de se iniciar uma escrita ou, muito menos, um blog de cunho pessoal. Primeiramente gostaria de dar as boas-vindas a quem quer que venha visitar este pequeno espaço onde irei publicar algumas de minhas escritas, contos que reescrevi com meus alunos; histórias originais que, em sua grande maioria, tiveram início a partir de diálogos e experiências que tive/tenho com meus pequenos; ilustrações feitas por mim...Enfim, usarei este espaço para dar vazão a minha necessidade quase que absurda de pôr para fora algumas de minhas inquietações.

A meu ver as palavras não devem ficar presas. Serem contidas dentro de um recipiente em nossas mentes. Por mais estranho e estúpido que possa parecer, a partir do momento que você externa o que quer que esteja sentindo ou pensando ou idealizando ou imaginando dentro de sua mente criativa, aquilo toma forma, cria vida. E é isso que venho tentando fazer: dar vida a toda inquietude vocabulária que existe dentro de mim.