Resenha: Aprendiz da imperfeição

                                                                      

Sinopse: Um jovem convive com um grande pintor na condição de aprendiz de sua arte, mas, diante da humildade e generosidade do mestre, acaba por aprender mais sobre a vida, o tempo, a cumplicidade e o sentido da existência. A perfeição, segundo o mestre, é insuportável.

 

“Enquanto eu continuar na ignorância, não sou ninguém.”

 

Há livros e LIVROS, não é mesmo?!

Peço perdão e que não me levem à mal pela frase anterior, mas, o fato é que hoje, infelizmente, vemos uma imensidão de ‘clubinhos’ de livros e leituras pífios, sem curadoria alguma, com livros de textura, que desconsideram a inteligência dos leitores e tudo mais…

 

E por que resolvi iniciar dizendo isso? Porque é gratificante e RECONFORTANTE quando encontramos livros que nos enriquecem. Que nos inquietam. Que nos fazem refletir e nos TRANSFORMAM ao final da leitura.

 

Este é o caso de “Aprendiz da imperfeição”, editado pela sensacional Pulo do Gato. Quem me conhece um pouquinho muito provavelmente já me ouviu falando sobre a Pulo [olha a intimidade]. O catálogo da editora é deslumbrante, em todos os sentidos! Qualidade estética e literária, livros que não subestimam os leitores e de uma riqueza indescritível.

 

Em “Aprendiz da imperfeição” conhecemos um menino que viaja de muito longe com o desejo de ser aprendiz de um grande artista, porém, quando ele bate à porta do pintor, esse não a abre, recusando-se a aceitar o menino como aprendiz. Mas, depois de muitas tentativas [e recusas por parte do mestre] o menino consegue adentrar no ateliê e ser aceito pelo ancião.

 

Durante a leitura do livro somos levados, como o menino, a acompanhar todo o processo de trabalho do pintor, até o momento em que há uma pausa, uma ausência de uma semana e, quando ocorre o retorno, nos deparamos com o pintor exausto diante de seu maior trabalho: uma tela perfeita.

 

De muito longe vem visitantes querendo obter a obra. Pelos motivos mais diversos. Ganância, vaidade, orgulho ostentação… mas, a cada pedido de compra, o mestre responde:


“Vou pensar a respeito”.

 

O final do livro é de uma sensibilidade ímpar! Somos levados a refletir sobre mil questões, daquelas bem íntimas, que permeiam nosso [sub]consciente e, ao concluir a leitura, quando vem o silêncio, percebemos que, de fato, A VIDA É UM CICLO.

 

As ilustrações são verdadeiras obras de arte e complementam o texto, levando-nos a fazer outras leituras da obra.

 

“As ilustrações remetem o leitor à estética visual e à cultura japonesa. A delicadeza dos gestos e das vestimentas, a beleza dos cenários internos e a marca da passagem das estações complementam a narrativa com poesia, ampliando os sentidos do texto. O desfecho retoma o início da narrativa e ressignifica os papéis de mestre e aprendiz.”


 APRENDIZ DA IMPERFEIÇÃO


Autor: Pieter van Oudheusden.

Ilustradora: Stefanie De Grafe.

Número de páginas: 32 páginas.
Editora: Pulo do Gato 

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Resenha: Cara Carlota Cornelius


Sinopse: Sobre o capacho da entrada de sua casa, 'Carlota Cora Cornelius' encontra um envelope endereçado a ela. De quem será a carta misteriosa? Em sua imaginação e com os olhos do desejo, Carlota lê cartas aparentemente improváveis, que a convidam a se libertar das suas quatro paredes e do jugo da mãe. Este é um livro sobre a força dos sonhos e do desejo de liberdade.

 

Se pudesse eu também enviaria uma carta à Carlota. Dizendo que vai ficar tudo bem [...]

 

O PODER da literatura é fantástico, não é mesmo? Como um mesmo livro pode causar reações diferentes em cada pessoa, dependendo de sua trajetória leitora e sensibilidade para com as obras literárias (bem como o percurso leitor que teve/tem ao longo da vida).

 

Mas, por que estou dizendo tudo isso antes, de fato, começar a resenha? Quando resolvi comprar “Cara Carlota Cornelius” estava à procura de “livros com cartas” e, em minhas pesquisas, encontrei a indicação da obra no caderno de indicações literárias da maleta do “Trilhas” (se não conhece: corra porque há um novo curso aberto, o material é muito bom!), uma resenha especializada da A Taba e, também, um comentário na página do livro na Amazon. Um bem diferente do outro (os dois primeiros bem positivos, minha cara e o comentário ultra negativo). Pronto, estava composta a fórmula certa para me deixar completamente inquieto (antes mesmo de ler o livro!) e comprá-lo sem pensar duas vezes.

 

Apaixonei-me de imediato por Carlota. No livro, a conhecemos logo na primeira página, quando encontra uma carta sobre o capacho. Ela não acredita. Arregala os olhos. Fica surpresa. Mas é isso mesmo, a carta está endereçada a ela.

 

Antes mesmo de conseguir abrir o envelope, sua mãe berra zangada, no topo da escada, ordenando que ela saia para fazer as compras e cumprir suas obrigações. Carlota, com o coração aos pulos, pega o envelope e… inicia a magia inteira do livro!

 

A menina começa a divagar com seus botões várias possibilidades para o que poderia estar escrito naquela carta. A cada virar de páginas somos transportados a um mundo fantástico (incrivelmente ilustrado em páginas duplas), guiados pela imaginação de Carlota.

E se quem enviou a carta foi o diretor do circo?

E se quem enviou a carta foi o Xeque Abu Dabhi?

E se quem enviou a carta  foi sua amiga Sylvia?

E se…

 

Quantas possibilidades encontramos quando queremos sair situações desagradáveis, não é mesmo? Quantas vezes em minha vida me vi como Carlota, escapando para dentro de mim e divagando comigo mesmo…

 

O final, confesso, me deixa fascinado toda vez que leio. Assim como Carlota, toda vez me pego sem lenço nem documento – mas com os olhos brilhantes!

 

Se quiser conferir e desvendar o que acontece com Carlota, lá no feed e no IGTV do Instagram, bem como em meu perfil do Facebook, tem a leitura deste livro sensacional!


CARA CARLOTA CORNELIUS


Autor: Mathilde Stein.

Ilustradora: Chuck Groenink.

Número de páginas: 32 páginas.

Editora: WMF Martins Fontes.

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Resenha: O caso do pote quebrado



Sinopse: Dona Coruja é investigadora de renome e está encarregada de resolver o mistério: afinal, quem transformou em cacos o pote do Marreco? Dona Coruja ganhou destaque como investigadora depois de resolver o Caso das Bananas (publicado pela Brinque-Book em 2003). Agora, ela está de volta para ajudar o desolado Marreco a desvendar o Caso do Pote Quebrado.

 

Adoro livros que prendem o leitor e o permitem participar da narrativa.

Em “O caso do pote quebrado”, escrito por Milton Célio de Oliveira Filho e ricamente lustrado por Mariana Massarani nos deparamos com o pobre Marreco que estava desolado, pois, enquanto tomava banho na lagoa, um intruso entrara em sua casa e atirara seu pote ao chão, transformando-o em cacos. A partir daí ele, determinado em saber quem foi o malvado que havia cometido tamanha atrocidade, convoca Dona Coruja, investigador de renome, para assumir o caso.

 

A cada virar de página vemos a coruja usando todo o seu talento de Sherlock Holmes para desvendar o mistério. Vai investigando os animais um a um e é aí que está a “mágica” do livro!

 

Nós, os leitores, acompanhamos a investigação através do diálogo/entrevista da coruja com os animais. Cada um dá sua justificativa (ou álibi, como achar melhor) de o porquê não é culpado e, além disso, cada um aponta um suspeito.

 

Dá para explorar cada página do livro e estimular a participação das crianças para desvendarem os suspeitos, tentando adivinhar qual animal aparecerá ao virar a página (além de tentar adivinhar por meio da fala e descrição dos animais, Mariana também dá uma pequena pista de cada um dos novos suspeitos, permitindo-nos vislumbrar um pedacinho do corpo do próximo animal na ilustração da página direita que antecedem seu aparecimento).

 

O livro é uma delícia de se ler em voz alta, de apresentar numa roda de leitura, deixando as crianças (pequenas e grandes, não há idade!) explorarem as ilustrações (eu, particularmente, AMO o traço da Mariana Massarani, neste livro ela estava particularmente inspirada, as ilustrações são belíssimas, todas em páginas duplas) e acompanharem o desfecho dessa história fantástica.

O desfecho, por sinal, é o ÁPICE de tudo que acontece no livro! É tão fantástico e imprevisível que, afirmo, vale a pena conferir (não entregarei aqui para não estragar a surpresa)!

 

Se quiser conferir e desvendar o que acontece, lá no feed e no IGTV do Instagram, bem como em meu perfil do Facebook, tem a leitura deste livro delicioso!


O CASO DO POTE QUEBRADO


Autor: Milton Célio de Oliveira Filho.

Ilustradora: Mariana Massarani.

Número de páginas: 32 páginas.

Editora: Brinque-Book.

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Resenha: Contos de Terror do Tio Montague



Sinopse: Edgar tem um tio que adora contar histórias arrepiantes. Só que são todas reais... até demais! Uma pequena boneca, uma moldura dourada, um velho telescópio de latão, entre outros objetos curiosos e sinistros são provas disso. Mas como o tio Montague teria conseguido montar tal coleção? O que Edgar nunca podia imaginar é que o protagonista da mais inusitada e horripilante história contada pelo tio era ninguém menos que o próprio - Montague.

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“Você não iria gostar deste lugar quando escurece…”

 

Gente! Vocês não fazem IDEIA de quanto esperei para vir aqui escrever sobre este livro! Eu já possuía o outro (“Contos de terror do Navio Negro”, confira a resenha clicando aqui) e sempre quis comprar este, porém, NUNCA o encontrava disponível para compra. Até que, finalmente, este ano (CINCO anos depois de ter comprado o Navio Negro!) consegui comprá-lo porque ele voltou ao estoque.

 

Em “Contos de Terror do Tio Montague”, escrito pelo britânico Chris Priestley, conhecemos Edgar, um garoto que possuía pais que não se sentiam muito à vontade perto de crianças. Sua relação com os pais não era das mais convencionais, por isso, Edgar adorava visitar seu Tio Montague, que lhe contava as mais sinistras histórias de terror, todas com certo quê de fantasia, mas, com um forte viés de veracidade.

 

Uma das coisas que acho mais incrível na escrita do Chris Priestley é que ele não se reprime, não se apega aos personagens e não tem medo de criar histórias cruéis, sombrias, cujos finais não se enquadram naqueles convencionais (e clichês) “felizes para sempre”, pelo contrário! O autor nos leva, em todos os contos, numa jornada inesperada, entremeada por caminhos estranhos, onde os personagens sofrem, física e psicologicamente, e nós, leitores, somos levados a uma viagem sensacional cujo desfecho é, sem sombra de dúvidas, estarrecedor.

 

A trama “principal” do livro se dá na visita de Edgar ao Tio Montague, que partilham contos de terror sentados perto da lareira numa sala que possui objetos peculiares, cada um desses objetos figura um dos contos e é peça fundamental e norteadora para as histórias de Tio Montague.

 

A escrita de Priestley nos envolve de tal maneira que os contos de Tio Montague, mesmo sendo pequenos, são absurdamente fascinantes. Você se prende de imediato e quando ele retoma aos diálogos de Edgar e seu tio você percebe a magistralidade do autor por nos conduzir a tantos caminhos diferentes por meio dos contos e mesmo assim mantendo um “plano de fundo” muito bem estruturado e tão fascinante quanto às pequenas (e sombrias!) histórias que nos são apresentadas.

 

A cada conto a escrita vai se tornando mais envolvente, de tal maneira que você se pega absorto ali, sem querer largar o livro e descobrir logo qual será o final de cada história, inclusive a de Edgar e Tio Montague. Queria discorrer sobre cada conto em particular, mas, tenho receio de entregar spoilers e acabar destruindo a experiência de leitura de quem se dispor a conhecer a obra (por favor, se você ama uma boa narrativa, envolvente, capaz de prender do início ao fim, compre este livro! Não se deixe enganar achando que ele é um livro “água com açúcar” por fazer parte do catálogo de um selo infanto-juvenil da Rocco).

 

Devo dizer que meus contos favoritos são “A des-porta” e “A moldura dourada”. Neles você vê a riqueza da escrita de Priestley e se vê embasbacado ao final da leitura. Se “A moldura dourada” virasse um filme, aposto, seria daqueles sucessos de crítica e bilheteria. Simplesmente fantástico! Esses contos se desenvolvem mais numa linha de terror psicológico, não tanto aquele terror explícito, o que me atrai ainda mais, pois, mexe com a cabeça da gente e não se torna apelativo.

 

O final do livro é tão incrível (e surpreendente!) quanto os finais de cada um dos contos que compõem a obra. “Contos de Teror do Tio Montague” é quase um inception, rs. Histórias dentro da história e, como já vemos na sinopse, tio Montague é o protagonista por trás de todo aquele suspense e obscuridade.

 

“Estas coisas à nossa volta são... como posso dizer?... possuídas por uma energia curiosa. Elas ressoam com a dor e o terror a que estão atreladas. Meu estúdio virou um repositório desses objetos. Eu coleciono o que ninguém quer, Edgar, as coisas assombradas, amaldiçoadas... as coisas malditas.”

 

As ilustrações que acompanham os contos, feitar por David Roberts, são tão incríveis quanto o texto, possuem um ar sombrio e são repletas de detalhes, personagens desenhados com olhos profundos e muitos detalhes nas sombras; parecem fazer parte de uma das obras de Tim Burton.

 

À você que aprecia uma boa história de terror, amante de textos bens escritos e que procura algo para se envolver eu mais que recomendo! Sugiro que o compre (está bem baratinho na Amazon), pois, você não irá se arrepender.


CONTOS DE TERROR DO TIO MONTAGUE


Autor: Chris Priestley

Ilustrador: David Roberts

Número de Páginas: 256 páginas

Editora: Pavio [selo da Editora Rocco]

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