Prendendo a respiração



É chegado o final do ano.
Quem me conhece sabe o quão emotivo fico. Não por causa do Natal. Muito menos por conta de família. Mas, por causa das crianças.
Sempre. Eu sempre me entrego de corpo e alma ao meu trabalho e, quando vai se aproximando ao fim, vou sentindo um aperto por dentro, meus olhos constantemente ficam marejados, com qualquer fala e demonstração de afeto vou me remoendo por dentro, num verdadeiro turbilhão emocional.


É engraçado. Costumo falar sempre com mamãe: "se o Helder do passado me visse agora...". 
Realmente, ele sentiria um choque.


Costumo dizer que me tornei o pai que nunca tive.
Com cada criança estabeleço uma conexão diferente, um vínculo, uma relação afetiva que, tempos atrás, seria inimaginável para mim.


Vale ressaltar que meu início de trabalho no ambiente escolar [há 10 anos!] foi completamente involuntário. Meio que obra do acaso.
Estava passando por um período turbulento e conturbado, sem expectativas DE NADA, após uma grande desilusão. Achei que nunca conseguiria encontrar "o sentido da vida" e, nesse ano de dois mil e oito, em meio à tantas desconexões em minha vida, me vi empregado numa escola. Apenas por estar. Mas, quão grande seria minha surpresa ao término desse mesmo ano, com o espírito renovado e uma nova paixão estabelecida em meu interior.


Hoje, dez anos depois daquele início peculiar, não vejo à minha frente outra coisa que gostaria/conseguiria fazer que não fosse relacionado ao trabalho com Educação [seja ela em espaços formais ou não-formais].
Respiro Educação. 
Todos os dias. 
Todo o tempo.


Este respirar me move. Me comove. Muitas vezes me sufoca. Me deixa sem ar.
Agora, ao final de mais um ano letivo, me vejo assim: tentando manter o fôlego, respirar fundo, prender e soltar o ar sabendo que, mais uma vez, afetos e afecções foram vivenciados. 
Corpos marcados. 
Almas tocadas.

Resenha: Júbilo, o romance do jardineiro ♥

In my secret garden



“É na terra e não no céu
 que se cultiva o paraíso!”


          Hoje tive o imenso prazer de compartilhar essa leitura com meus filhotes da Barra. Antes de iniciar meu relato devo dizer que na primeira vez que li “Júbilo, o romance do jardineiro” eu chorei.


          Chorei pela sensibilidade do texto. Pela beleza das ilustrações.
          Chorei por ver a simbologia por trás da leitura me tocar tão profundamente a ponto de lágrimas saírem de meus olhos.


          Hoje, como sabia que precisaria substituir um de meus professores, adicionei Júbilo ao meu planejamento. Não poderia ter feito escolha melhor!


          Júbilo nos conta a história de Juvenal, um jardineiro que se vê obrigado a aposentar-se devido à falência de seus patrões. Todos os seus colegas partem para encontrar novos empregos e patrões, mas, ele não.


“Será pelos meus cabelos brancos,
A surdez, a miopia, o barrigão? (E porque sou queixoso e enrugado,
Lento, fraco e pesadão?”


          E, a partir daí, Juvenal se encontra num “declínio emocional”.
          O texto, todo rimado, torna a leitura fluida e as ilustrações poderosas nos causam inúmeras sensações e nos transmitem o estado melancólico de Juvenal.


          As crianças e eu conversamos bastante sobre os diferentes “significados” e representações presentes no livro.


          Conversamos sobre depressão. Sobre entregar-se aos sentimentos...
          Conversamos também sobre preconceito (de idade, cor, sexo). Sobre as diferenças de classe e direitos trabalhistas...
          Conversamos sobre a representação da infância e o poder das memórias afetivas...

          “Júbilo, o romance do jardineiro” nos possibilitou inúmeras conversas, diálogo franco, sensível e aberto.


“Esse livro é triste”. Disse-me E. que, após essa fala, prontamente completou: “Mas eu gostei muito”.


          Ao final da leitura nossos corações estavam aquecidos e cheios, feito balões repletos de ar.





Júbilo - O romance do jardineiro

Autora: Andrea Pizarro Clemo
Capa dura
Editora: Amelì
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