FANTASMAS, BRUXAS E AFINS, 5 Livros Assustadoramente Divertidos


"Elas representam nossa entrada no mundo dos mistérios, de longas e incríveis travessias em direção ao crescimento.
Uma vida sem bruxas é uma vida sem fadas, sem magia, sem aventuras e sem imaginação. É exatamente por isso que onde tem criança tem bruxa." [retirado do site da A Taba ❤️️]
 

Resenha: Maior museu do mundo

 

Por aqui acreditamos muito na máxima de que “Um livro ilustrado é a primeira galeria de arte que uma criança visita” [frase emblemática de Kveta Pacovska].


Eu, particularmente, sou apaixonado pelas artes plásticas e busco, todos os anos, oportunizar uma ampliação de repertórios às minhas crianças, explorando biografias de artistas variados, vivências artísticas, diversas técnicas/suportes/escolas...


Creio que nós, enquanto educadores/escola, ainda estamos engatinhando no que cerne à exploração livre-afetiva de nossas crianças, especialmente por conta do engessamento que os sistemas nos impõem e por ainda estarmos presos à uma visão conteudista da sala de aula [vide os baixos índices referentes a criatividade que se apresentam atualmente].


Portanto, quando me deparo com obras que dialogam com aquilo que sou apaixonado, leitura de mundo, território, arte e transformação, me deleito por completo! Este é o caso de “Maior museu do mundo”, de Caio Zero, publicado pela Editora Pulo do Gato.


Quantas coisas podemos aprender num passeio com a escola? No Maior museu do mundo o protagonista embarca numa visita a um Museu de Arte com seus colegas e sua professora, num cenário urbano de muitas cores e vidas. Cada um tem sua própria história, mas quais são as histórias contadas pelas obras de um museu?


Neste livro cheio de cores e referências artísticas, Caio Zero nos leva a acompanhar um garoto curioso e observador durante uma visita escolar ao Museu e depois no seu retorno para casa. O deslocamento é chave para essa leitura porque vamos refletir, através do olhar do menino, sobre a importância do território e dos trajetos afetivos que nos desenham.


É impossível não terminar esta leitura com um sorriso bobo nos lábios e uma emoção perfurando o peito... vir de uma comunidade [e optar por permanecer nela] me faz perceber, dia a dia, o quanto precisamos seguir resistindo e lutando por aquilo que acreditamos, para além dos discursos! Lutar por oportunidade de acesso a bens culturais, a vivências artísticas, a ressignificação dos olhares para com as sutilezas poéticas do cotidiano e o quanto a arte está à nossa volta. E dentro de nós!


“O que você aprendeu hoje?”


- Livro: Maior museu do mundo.

- Autor: Caio Zero.

- Editora: Pulo do Gato.


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Resenha: Lanche noturno

 


Há livros que chegam como quem acende uma lamparina na escuridão. No caso de “Lanche Noturno”, sinto que a lamparina foi acesa, mas, ao mesmo tempo, sua chama tornou-se bruxuleante...


“Lanche noturno” noz propõe um convite delicado para atravessar a noite em companhia de animais que, enquanto o mundo dorme, encontram espaço para seus rituais, seus desejos e sua fome.


É impossível não se encantar com as ilustrações. Formidáveis, exuberantes, quase cinematográficas, elas dão ao livro uma força rara, que prende o olhar e pede demoradas pausas na leitura. Cada traço parece guardar uma história dentro da história, fazendo com que a atmosfera noturna se torne palpável e até reconfortante.


Já a narrativa, confesso, não me capturou de imediato. Senti que “faltava algo”, um fio mais firme que conduzisse o enredo. Belíssimo de se ver, mas não tão arrebatador de se ler (pelo menos, à primeira vista).


Quando compartilhei o livro com as crianças minhas certezas vacilaram. Seus olhos atentos me revelaram coisas que eu não havia notado: “o ratinho é o principal da história [..] será que ele está imaginando o banquete?”; “a coruja parece que tem cara de coração, deve ser porque ela fica igual a mãe dos bichos, dando comida pra eles”; “essa sombra de cartela na guarda, será que é um animal mágico que vai trazer o lanche? Ele deu tchau no final, será que ele fez tudo isso aparecer com os poderes?”...


Nesse jogo entre imagens e silêncios, ele também toca em questões maiores: a desigualdade, a generosidade, a esperança de que, ainda no escuro, um gesto pode transformar a realidade de alguém. Talvez sua narrativa não prenda tanto, mas abre espaço para que cada leitor (pequeno ou grande) preencha as lacunas com sua própria sensibilidade.


É um livro que se completa na partilha, que pede para ser lido em voz alta, comentado, visto e revisto. Porque, no fim, talvez não seja sobre a história que se conta, mas sobre as histórias que ela desperta em nós.


- Livro: Lanche noturno.

- Escritor: Eric Fan.

- Ilustradora: Dena Seiferling.

- Tradução: Lígia Azevedo.

- Editora: Companhia das Letrinhas.


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Resenha: Noite de brinquedo

 


Quanto tempo dura um reinado? E a infância?


Nos últimos anos tenho me debruçado e explorado mais e mais obras que tenham forte característica da oralidade, que são impregnadas da “cultura popular” e que me permitem ampliar meus repertórios e olhares.


“Coisa mais esquisita é crescer.. assim, pra deixar de ser...”


“Noite de brinquedo” é um daqueles livros cheios de inventos, que nos propõe um convite para brincar o reisado e explorar, a cada virar de página, uma infância sem longe. Como Bel Santos Mayer lindamente traz no prefácio: “Temos em mãos um livro que faz cócegas na imaginação e espana esquecimentos”. 


“Só quem vive de inventar o próprio viver sabe se fartar de invisível.”


Esta obra nos chegou carregada de afetos e cores, por meio de uma doação de um casal muito querido, que tem apoiado e contribuído com nosso Espaço de Leitura... Este livro nos apresenta a jornada de Maria, uma menina rainha que cresceu brincando reisado, folguedo que é uma mistura de teatro, brincadeira e festejo. Até que um dia, assim como manda a tradição desse brinquedo popular, ela precisa passar a coroa para uma menina mais nova. 


“Não era uma vez nem se sabe como seria. Era de primeiro, num tempo de travessia.”


Não bastasse o desafio de viver esse rito de passagem e crescer, coisas estranhas acontecem no terreiro de Yayá, a avó de Maria, e ela é convocada a atravessar o sertão numa noite escura sem fim. No percurso, encontra personagens lendários e encantados.


Permeada dos saberes da cultura brasileira, a narrativa tem estrutura de conto acumulativo, em que os mistérios vão se desvendando aos poucos, e novas companhias vão surgindo a cada curva da caminhada, como que para não nos deixar esquecer do dom de sonhar junto, e da perseverança e do entusiasmo necessários para trilhar o caminho.


“O povo diz que malabar de pensamento

são os inventos que vamos aqui rezar.

Solta o mote, pede o verso, incrementa,

só de pirraça inventamos de rimar.


Nosso rosário é cheinho de bugiganga,

espiga de mio, carretel e mucunã.

Nos três mistérios somos bem fãs de munganga,

Valha Cruz-Credo, São Pitomba e São Tantã.


Nossa reza tem acordo com Caipora,

pede a força ao Papa-Figo,

desenterra até causo de botija,

acode cabinha com dor de umbigo.” 


- Livro: Noite de brinquedo.

- Escritoras: Antonia Mattos & Gabriela Romeu.

- Ilustradora: Luci Sacoleira.

- Editora: Peirópolis.


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Resenha: O robozinho de madeira e a princesa lenha


Daqueles livros “redondinhos”, para aquecer e afagar o coração.

[...]

Há dias em que a mente e o humor da gente parecem entrar em descompasso, não é!?

Hoje eu estava assim: uma noite mal-dormida, acordar no susto, dores no corpo e uma dose inesperada de agruras da vida... em dias assim, a vontade é permanecer na cama, mas, a vida pede passagem [e às vezes passa por cima] e é preciso levantar e encarar os demônios diários.

Em meio a meu mau humor e cansaço, estava buscando meios de me [re]conectar comigo e manter o foco para conseguir dar conta do que precisa [foram várias xícaras de café e playlist do Yann Tiersen nas tentativas], porém, não estava conseguindo.

Foi quando resolvi abrir os livros novos e tentar desanuviar... a escolha não poderia ter sido mais acertada!

“O robozinho de madeira e a princesa-lenha” conseguiu fazer com que meu coração se acalmasse, que o sorriso brotasse e a mente começasse a se realinhar.

O rei e a rainha não tinham filhos. Então recorreram à inventora real e à bruxa, que lhes providenciaram, respectivamente, um robozinho de madeira e uma princesa feita de lenha encantada. Mas, todas as noites, a princesa, ao adormecer, voltava a ser um simples pedaço de pau. E, pelas manhãs, seu irmão devia despertá-la com palavras mágicas. Certo dia, ele se esqueceu de sua tarefa e uma camareira acabou jogando a lenha fora. Para encontrar sua irmã, o valente robozinho vai cruzar os mares rumo ao Norte congelado e enfrentar todo tipo de aventura.

Este é um daqueles livros que nos pegam pela “simplicidade” da narrativa, algo singelo, mas carregado de afeto que, somado à indescritível beleza visual das ilustrações e o capricho primoroso da edição, nos conduzem àquele lugar tão caro dentro de nossos peitos: o fabuloso imaginário que temos no coração.

Um livro leve, surpreendentemente encantador, divertido de ler, inteligente e afetuoso. Amei com todas as forças, sou grato por tê-lo conhecido e estou ansioso para compartilhar com os little!

- Livro: O robozinho de madeira e a princesa-lenha.
- Autor: Tom Gauld.
- Tradução: Fabrício Valério.
- Editora: VR.


 

Resenha: Doutora Era uma vez

 


“Eu acho que essa guarda tá mostrando o que ela desenhou e o que ela vai viver imaginando durante o livro!”


Foi assim que um aluno muito querido disso logo que iniciei a mediação de “Doutora Era uma vez”, mais um livro gracioso (e liiindo visualmente!) da Brinque-Book.


Eu amo acompanhar o desenvolvimento das crianças enquanto leitoras e poder visualizar o quanto de seus repertórios vai se ampliando ao longo do ano letivo, de maneira que suas inferências tornam-se cada vez mais pontuais e cheias de segurança, completamente coerentes com suas trajetórias e com as narrativas que leram/ouviram.


A Doutora Era Uma Vez atua no mundo encantado dos contos de fadas. Dentre seus pacientes estão Cinderela ― que machucou o pé quando perdeu o sapatinho ―, Rapunzel ― que está com dor de cabeça de tanto carregar a mãe e o príncipe pelas tranças ― e o Lobo Mau ― que chamuscou o pelo na lareira dos três porquinhos. A rotina da doutora é muito agitada e o número de pacientes só aumenta. Mas, quando a garota fica doente, quem será que cuida dela?


O livro possui muuuitas referências aos textos clássicos e suas ilustrações são um atrativo à parte! As páginas duplas que se abrem “na vertical” são, de longe, as minhas favoritas, divinas!


“Doutora Era uma vez” é uma obra que convida à fabulação, apresentando uma intertextualidade carregada de poesia visual, que nos faz recorrer a nosso próprio repertório a todo momento, cada vez que nos deparamos com uma ou duas figuras que conhecemos. Uma verdadeira ode à imaginação infantil!


As autoras Catherine Jacob e Hoang Giang tornam realidade um dos faz de conta favoritos de muitas crianças: brincar de ser médico. Além disso, conseguem deixar a brincadeira ainda mais divertida ao transformar personagens clássicos da literatura infantil em pacientes, nos convidando a revisitar as suas histórias.


- Livro: Doutora Era uma vez..

- Escritora: Catherine Jacob.

- Ilustradora: Hoang Giang

- Tradutora: Julia Bussius.

- Editora: Brinque-Book.


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Resenha: Quatro ladrões

 

O que acontece quando quatro ladrões profissionais dependem de seu sobrinho distraído para executar um plano mirabolante?


A resposta para a questão acima é: um livro divertidíssimo (mais um!) do incrível Guilherme Karsten (eu AMO “A Caçada” e “Carona”).


Havia cinco ladrões. Eles eram os piores ladrões da cidade. Na verdade, havia quatro… e o sobrinho deles, o Osvaldo, um garotinho muito distraído e que passava o dia todo desenhando. 


Na narrativa conhecemos os piores ladrões da cidade. Ladrões profissionais! Daqueles que constam na lista de procurados e tudo o mais. Eles, prestes a executar mais um de seus grandiosos assaltos, contam com o apoio artístico de Osvaldo, o sobrinho.


“Quatro ladrões” é um daqueles livros que diverte e envolve, que capta os leitores desde o momento inicial, pois, assim como os ladrões, que possuem cada um sua responsabilidade (um tem todas as ferramentas, o outro é o mestre dos disfarces, um cuida da segurança e o outro vigia), nós, leitores, ficamos com a melhor das incumbências: acompanhar as estripulias desta trupe!


Li este livro em Praça pública, no distrito de Guaraná, em uma das ações de nosso Espaço de Leitura... como foi delicioso para mim, enquanto mediador, acompanhar as inferências mirabolantes do público tentando prever e imaginar o destino dos quatro ladrões e meio!


Será que esse grupo improvável irá conseguir planejar um grande assalto ao banco? Só esperamos que o Osvaldo não se distraia dessa vez...


Em uma narrativa original e engraçada, Guilherme Karsten nos mostra que, às vezes, as nossas fraquezas podem se mostrar verdadeiros talentos.


- Livro: Quatro ladrões.

- Autor: Guilherme Karsten.

- Editora: HarperKids.


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