Resenha: Noite de brinquedo

 


Quanto tempo dura um reinado? E a infância?


Nos últimos anos tenho me debruçado e explorado mais e mais obras que tenham forte característica da oralidade, que são impregnadas da “cultura popular” e que me permitem ampliar meus repertórios e olhares.


“Coisa mais esquisita é crescer.. assim, pra deixar de ser...”


“Noite de brinquedo” é um daqueles livros cheios de inventos, que nos propõe um convite para brincar o reisado e explorar, a cada virar de página, uma infância sem longe. Como Bel Santos Mayer lindamente traz no prefácio: “Temos em mãos um livro que faz cócegas na imaginação e espana esquecimentos”. 


“Só quem vive de inventar o próprio viver sabe se fartar de invisível.”


Esta obra nos chegou carregada de afetos e cores, por meio de uma doação de um casal muito querido, que tem apoiado e contribuído com nosso Espaço de Leitura... Este livro nos apresenta a jornada de Maria, uma menina rainha que cresceu brincando reisado, folguedo que é uma mistura de teatro, brincadeira e festejo. Até que um dia, assim como manda a tradição desse brinquedo popular, ela precisa passar a coroa para uma menina mais nova. 


“Não era uma vez nem se sabe como seria. Era de primeiro, num tempo de travessia.”


Não bastasse o desafio de viver esse rito de passagem e crescer, coisas estranhas acontecem no terreiro de Yayá, a avó de Maria, e ela é convocada a atravessar o sertão numa noite escura sem fim. No percurso, encontra personagens lendários e encantados.


Permeada dos saberes da cultura brasileira, a narrativa tem estrutura de conto acumulativo, em que os mistérios vão se desvendando aos poucos, e novas companhias vão surgindo a cada curva da caminhada, como que para não nos deixar esquecer do dom de sonhar junto, e da perseverança e do entusiasmo necessários para trilhar o caminho.


“O povo diz que malabar de pensamento

são os inventos que vamos aqui rezar.

Solta o mote, pede o verso, incrementa,

só de pirraça inventamos de rimar.


Nosso rosário é cheinho de bugiganga,

espiga de mio, carretel e mucunã.

Nos três mistérios somos bem fãs de munganga,

Valha Cruz-Credo, São Pitomba e São Tantã.


Nossa reza tem acordo com Caipora,

pede a força ao Papa-Figo,

desenterra até causo de botija,

acode cabinha com dor de umbigo.” 


- Livro: Noite de brinquedo.

- Escritoras: Antonia Mattos & Gabriela Romeu.

- Ilustradora: Luci Sacoleira.

- Editora: Peirópolis.


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