Resenha: Lanche noturno

 


Há livros que chegam como quem acende uma lamparina na escuridão. No caso de “Lanche Noturno”, sinto que a lamparina foi acesa, mas, ao mesmo tempo, sua chama tornou-se bruxuleante...


“Lanche noturno” noz propõe um convite delicado para atravessar a noite em companhia de animais que, enquanto o mundo dorme, encontram espaço para seus rituais, seus desejos e sua fome.


É impossível não se encantar com as ilustrações. Formidáveis, exuberantes, quase cinematográficas, elas dão ao livro uma força rara, que prende o olhar e pede demoradas pausas na leitura. Cada traço parece guardar uma história dentro da história, fazendo com que a atmosfera noturna se torne palpável e até reconfortante.


Já a narrativa, confesso, não me capturou de imediato. Senti que “faltava algo”, um fio mais firme que conduzisse o enredo. Belíssimo de se ver, mas não tão arrebatador de se ler (pelo menos, à primeira vista).


Quando compartilhei o livro com as crianças minhas certezas vacilaram. Seus olhos atentos me revelaram coisas que eu não havia notado: “o ratinho é o principal da história [..] será que ele está imaginando o banquete?”; “a coruja parece que tem cara de coração, deve ser porque ela fica igual a mãe dos bichos, dando comida pra eles”; “essa sombra de cartela na guarda, será que é um animal mágico que vai trazer o lanche? Ele deu tchau no final, será que ele fez tudo isso aparecer com os poderes?”...


Nesse jogo entre imagens e silêncios, ele também toca em questões maiores: a desigualdade, a generosidade, a esperança de que, ainda no escuro, um gesto pode transformar a realidade de alguém. Talvez sua narrativa não prenda tanto, mas abre espaço para que cada leitor (pequeno ou grande) preencha as lacunas com sua própria sensibilidade.


É um livro que se completa na partilha, que pede para ser lido em voz alta, comentado, visto e revisto. Porque, no fim, talvez não seja sobre a história que se conta, mas sobre as histórias que ela desperta em nós.


- Livro: Lanche noturno.

- Escritor: Eric Fan.

- Ilustradora: Dena Seiferling.

- Tradução: Lígia Azevedo.

- Editora: Companhia das Letrinhas.


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