Resenha: O pacto do bosque


Sinopse: Todas as noites, os dois irmãos pedem para que a mãe lhes conte a mesma história: a dos coelhinhos que fogem de casa em direção ao bosque e, ao se perderem, encontram uma grande e triste loba, que chora por ter perdido a visão e não poder cuidar dos filhotinhos que estão por nascer. Tocante e poético, o enredo aborda o poder transformador do amor, da amizade e da gratidão. Um livro que instiga a reflexão sobre a natureza das relações entre os diferentes e desconstrói a noção de que elas precisam se basear no conflito.

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     Há algumas leituras que, mesmo antes de realizá-las, você já sabe [ou sente] que serão especiais. Este foi o caso de O pacto do bosque, publicado pela Editora Pulo do Gato 


     Não sei o porque, mas, desde quando vi sua capa pela primeira vez senti uma atração instantânea e eu sabia que, cedo ou tarde, aquele livro deveria fazer parte de meu acervo literário. Adicionei-o a minha lista de desejos imediatamente.


     O tempo foi passando, comprei mais alguns livros da editora, recebi outros por meio de nossa parceria, mas, O pacto do bosque continuava em minha lista, olhando para mim com sua bela e artística capa. Decidi, então, comprá-lo durante a Black Friday, fiz um levantamento prévio a fim de decidir quais livros de minha lista de desejos eu iria comprar e o inclui no montante.


      Porém, como num bom conto de fadas, houve uma pequena e agradável reviravolta: a adorável Júlia Martins, responsável pelo contato entre a editora e os parceiros, enviou-me um e-mail perguntando se havia algum livro específico no extenso [e incrível!] catálogo da editora que eu gostaria de receber em especial. E não deu outra! Imediatamente respondi dizendo que o escolhido era: O pacto do bosque.


     Bom, o livro chegou e, para minha surpresa, superou TODA e QUALQUER expectativa que eu havia criado para com ele!


       O livro é incrivelmente lindo. O texto é de uma leveza e sensibilidade capazes de comover e envolver leitores de qualquer idade.


      As ilustrações funcionam como verdadeiros ímãs, atraindo seus olhos para toda a extensão das páginas, fazendo-os percorrem as dimensões do papel analisando, observando e se deslumbrando com o traçado assombrosamente mágico de Beatriz Martin Vidal. Percorri o livro inteiro me deliciando com as ilustrações e com uma sensação de familiaridade que não sabia ao certo do que se tratava, até chegar ao final do livro e ver que a ilustradora também ilustrou um dos livros mais lindos [e experiências mais fantásticas de leitura que já tive em minha vida como professor] que já li na vida: Íris - Uma despedida [confira o relato de minha experiência de leitura deste livro clicando aqui]!


          Uma das coisas que mais me emocionaram, de imediato, foi a maneira com que o livro se inicia [tão semelhante aos momentos que vivo aqui em casa, em meu Espaço e vivi durante meus anos de trabalho em sala de aula]: a mãe bem juntinha às crianças, com elas aninhadas num momento de aconchego e intimidade afetuosa para o momento da história antes de dormir. Achei muito bacana e me relacionei completamente, pois, muitos foram os momentos que vivi assim, deitado, com os “guris” sob meus braços, aconchegados como se fôssemos uma família de passarinhos, bem atentos para ouvir histórias que, muitas vezes, como no caso de Paula e Gustavo, eram repedidas.
         

          Em O pacto do bosque todas as noites as crianças, Paula e Gustavo, pedem a sua mãe para contar a mesma história. A mãe conta a história da trégua envolvendo lobos e coelhos que, devido a certo acontecimento no bosque, tornaram-se amigos. No livro há uma “história dentro da história”. Acompanhamos a mãe contar a história dos dois coelhinhos irmãos, Orelhinha [que a tudo ouvia com suas grandes e poderosas orelhas] e Lambe-Lambe [que, por ser filhotinho, tudo lambia] que, apesar de terem ouvido sua mamãe coelha dizer que não deveriam entrar no bosque, um dia a desobedeceram e partiram para uma inesperada aventura em meio aos perigos que os cerceavam.


          Dentro do bosque os dois coelhinhos seguem tranquilamente, sem se atentaram a o quão dentro do bosque estavam se enfiando até que se dão conta de uma coisa assombrosa: estavam perdidos! Porém, mesmo sem saber como voltar para casa e com a escuridão imponente sobre eles, os dois irmãos ouvem um grunhido, um soluçar acompanhado de um choro. Os dois, impetuosos e aventureiros, dirigem-se até a origem do som e se deparam com uma loba prenha, com os olhos cobertos por lama, dizendo que havia ficado cega e estava desesperada por não saber se conseguiria cuidar de seus filhotes nesta situação.


O coelhinho Lambe-Lambe, que a tudo lambia, vendo as lágrimas escorrendo pelos olhos da loba aproxima-se e passa a lamber seus olhos removendo, assim, todo o barro e lama que havia sobre os olhos da loba que, imediatamente, volta a enxergar. E assim a loba, emocionando-se por ter sido salva de sua situação precária, acolhe os dois coelhos e os mantém aquecidos durante a noite, levando-os para casa na manhã do outro dia.


          E, assim, instaurou-se o pacto do bosque. Os lobos passaram a acreditar que a saliva dos coelhos é mágica e, por isso, nunca mais deveriam lhe fazer mal.


          Vale ressaltar que as ilustrações, enquanto acompanhamos a aventura de Orelhinha e Lambe-Lambe pelo bosque, retratando os dois personagens de maneira muito semelhante às duas crianças que ouvem atentamente a mãe contar-lhes a história na cama. Os coelhinhos são, na verdade, as duas crianças fantasiadas. O que dá um ar muito mais lúdico e nos faz ouvir e acompanhar a história como se nós leitores fôssemos crianças como Paula e Gustavo, que nos inserimos e somos representados pelos personagens que acompanhamos.


No final do momento de leitura, Paula pergunta à sua mãe se realmente havia mágica ou se o que havia acontecido era apenas a remoção do barro que estava sobre os olhos da loba. A mãe, poeticamente responde:

“Bem, querida, quem há de saber o que aconteceu? [...]  Na realidade, o que curou foi o amor.”


          Li o livro para meu aluno José Leone e, ao final da leitura, enquanto conversávamos, perguntei o que ele achava que de fato tinha acontecido. Se havia magia nos pequenos coelhos ou se apenas o acaso havia acontecido, com Lambe-Lambe removendo o barro dos olhos da loba. Ele, com a sensibilidade mágica e poética de uma criança me respondeu: “MAS É CLARO QUE A LÍNGUA DELE ERA MÁGICA!”.


          Pois é, O pacto do bosque é tudo aquilo e muito mais do que eu esperava. Uma fábula que trata sobre o amor, infância, coragem e amizade. Terminei a leitura com um sorriso bobo nos lábios, com os olhos brilhando e me enxergando completa e inteiramente na mãe que, ao observar seus filhos adormecerem, pensou que o amor era mesmo inexplicável…


*Livro recebido em parceria com a Editora Pulo do Gato 


O pacto do bosque


Autor: Gustavo Martín Garzo
Número de páginas: 32 páginas
Editora: Pulo do Gato 
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