As árvores e o machado

    Uma fábula não muito conhecida, mas tão interessante quanto todas aquelas consideradas clássicas, "As árvores e o machado" traz um viés de mesquinharia, certa ingenuidade e, como dizem as crianças, muito recalque por parte das árvores "nobres".

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As árvores e o machado
(fábula adaptada por Helder Guastti)

    Na floresta, assim como acontece nas cidades, também há intrigas e desavenças. As árvores mais antigas e robustas destratavam das mais novas e de galhos mais finos. Aquelas que possuem a dita "madeira de lei", sentem-se superiores e agem como se fossem as soberanas da floresta.
    Certo dia um lenhador de grande porte, com músculos avantajados, cabelos negros como o ébano e mãos enormes, calejadas devido os anos de uso constante do machado, foi à floresta e pediu às árvores que lhe dessem um cabo para seu machado que, num acidente cujo a relevância o lenhador preferiu omitir das árvores, acabou perdendo o antigo cabo.
    As árvores reuniram-se em conselho e, unanimemente, decidiram que não havia problema nenhum em atender ao pedido do lenhador, que parecia ser muito trabalhador.
    Decidiu-se que o freixo, considerada uma árvore banal e nada menos que comum por suas companheiras, daria o que fosse preciso para a restauração do machado.
    Porém, assim que teve seu pedido atendido, o lenhador brandiu seu machado recém restaurado, cuja lâmina brilhava faiscante e o cabo reluzia o finado freixo, atacando feito uma besta descontrolada. O massacre teve início. Começou decepando as mais velhas e robustas, fazendo a lenha com as madeiras de lei.
    Seguiu destruindo tudo o que via pela frente.
    O carvalho, percebendo tardiamente o massacre que assolava as companheiras, cutucou o cedro que abismado observava:
    - Como pudemos ser tão estúpidas?! Não deveríamos ter atendido essa maligna criatura e, ainda por cima, sacrificamos nosso pobre vizinho. Talvez, se tivéssemos pensado com sabedoria, ainda existiríamos durante décadas e mais décadas.
    Mal terminou de falar, a lâmina atingiu-o em cheio, derrubando-o e fazendo um som ensurdecedor.

    Moral: quem trai os amigos pode estar cavando a própria cova.


Um comentário:

  1. Essa não fazia parte do meu rol de fábulas... Magnífica!!! Pura realidade!!!
    Que bom que a cada dia traz nova forma de vida aos pequenos... Mesmo cansado, após um dia de trabalho ainda consegue transmitir/compartilhar novos conhecimentos... Estou muito feliz por você!!! Sucesso!!!

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