FANTASMAS, BRUXAS E AFINS, 5 Livros Assustadoramente Divertidos
Resenha: Maior museu do mundo
Por aqui acreditamos muito na máxima de que “Um livro ilustrado é a primeira galeria de arte que uma criança visita” [frase emblemática de Kveta Pacovska].
Eu, particularmente, sou apaixonado pelas artes plásticas e busco, todos os anos, oportunizar uma ampliação de repertórios às minhas crianças, explorando biografias de artistas variados, vivências artísticas, diversas técnicas/suportes/escolas...
Creio que nós, enquanto educadores/escola, ainda estamos engatinhando no que cerne à exploração livre-afetiva de nossas crianças, especialmente por conta do engessamento que os sistemas nos impõem e por ainda estarmos presos à uma visão conteudista da sala de aula [vide os baixos índices referentes a criatividade que se apresentam atualmente].
Portanto, quando me deparo com obras que dialogam com aquilo que sou apaixonado, leitura de mundo, território, arte e transformação, me deleito por completo! Este é o caso de “Maior museu do mundo”, de Caio Zero, publicado pela Editora Pulo do Gato.
Quantas coisas podemos aprender num passeio com a escola? No Maior museu do mundo o protagonista embarca numa visita a um Museu de Arte com seus colegas e sua professora, num cenário urbano de muitas cores e vidas. Cada um tem sua própria história, mas quais são as histórias contadas pelas obras de um museu?
Neste livro cheio de cores e referências artísticas, Caio Zero nos leva a acompanhar um garoto curioso e observador durante uma visita escolar ao Museu e depois no seu retorno para casa. O deslocamento é chave para essa leitura porque vamos refletir, através do olhar do menino, sobre a importância do território e dos trajetos afetivos que nos desenham.
É impossível não terminar esta leitura com um sorriso bobo nos lábios e uma emoção perfurando o peito... vir de uma comunidade [e optar por permanecer nela] me faz perceber, dia a dia, o quanto precisamos seguir resistindo e lutando por aquilo que acreditamos, para além dos discursos! Lutar por oportunidade de acesso a bens culturais, a vivências artísticas, a ressignificação dos olhares para com as sutilezas poéticas do cotidiano e o quanto a arte está à nossa volta. E dentro de nós!
“O que você aprendeu hoje?”
- Livro: Maior museu do mundo.
- Autor: Caio Zero.
- Editora: Pulo do Gato.
Resenha: Lanche noturno
Há livros que chegam como quem acende uma lamparina na escuridão. No caso de “Lanche Noturno”, sinto que a lamparina foi acesa, mas, ao mesmo tempo, sua chama tornou-se bruxuleante...
“Lanche noturno” noz propõe um convite delicado para atravessar a noite em companhia de animais que, enquanto o mundo dorme, encontram espaço para seus rituais, seus desejos e sua fome.
É impossível não se encantar com as ilustrações. Formidáveis, exuberantes, quase cinematográficas, elas dão ao livro uma força rara, que prende o olhar e pede demoradas pausas na leitura. Cada traço parece guardar uma história dentro da história, fazendo com que a atmosfera noturna se torne palpável e até reconfortante.
Já a narrativa, confesso, não me capturou de imediato. Senti que “faltava algo”, um fio mais firme que conduzisse o enredo. Belíssimo de se ver, mas não tão arrebatador de se ler (pelo menos, à primeira vista).
Quando compartilhei o livro com as crianças minhas certezas vacilaram. Seus olhos atentos me revelaram coisas que eu não havia notado: “o ratinho é o principal da história [..] será que ele está imaginando o banquete?”; “a coruja parece que tem cara de coração, deve ser porque ela fica igual a mãe dos bichos, dando comida pra eles”; “essa sombra de cartela na guarda, será que é um animal mágico que vai trazer o lanche? Ele deu tchau no final, será que ele fez tudo isso aparecer com os poderes?”...
Nesse jogo entre imagens e silêncios, ele também toca em questões maiores: a desigualdade, a generosidade, a esperança de que, ainda no escuro, um gesto pode transformar a realidade de alguém. Talvez sua narrativa não prenda tanto, mas abre espaço para que cada leitor (pequeno ou grande) preencha as lacunas com sua própria sensibilidade.
É um livro que se completa na partilha, que pede para ser lido em voz alta, comentado, visto e revisto. Porque, no fim, talvez não seja sobre a história que se conta, mas sobre as histórias que ela desperta em nós.
- Livro: Lanche noturno.
- Escritor: Eric Fan.
- Ilustradora: Dena Seiferling.
- Tradução: Lígia Azevedo.
- Editora: Companhia das Letrinhas.
Resenha: Noite de brinquedo
Quanto tempo dura um reinado? E a infância?
Nos últimos anos tenho me debruçado e explorado mais e mais obras que tenham forte característica da oralidade, que são impregnadas da “cultura popular” e que me permitem ampliar meus repertórios e olhares.
“Coisa mais esquisita é crescer.. assim, pra deixar de ser...”
“Noite de brinquedo” é um daqueles livros cheios de inventos, que nos propõe um convite para brincar o reisado e explorar, a cada virar de página, uma infância sem longe. Como Bel Santos Mayer lindamente traz no prefácio: “Temos em mãos um livro que faz cócegas na imaginação e espana esquecimentos”.
“Só quem vive de inventar o próprio viver sabe se fartar de invisível.”
Esta obra nos chegou carregada de afetos e cores, por meio de uma doação de um casal muito querido, que tem apoiado e contribuído com nosso Espaço de Leitura... Este livro nos apresenta a jornada de Maria, uma menina rainha que cresceu brincando reisado, folguedo que é uma mistura de teatro, brincadeira e festejo. Até que um dia, assim como manda a tradição desse brinquedo popular, ela precisa passar a coroa para uma menina mais nova.
“Não era uma vez nem se sabe como seria. Era de primeiro, num tempo de travessia.”
Não bastasse o desafio de viver esse rito de passagem e crescer, coisas estranhas acontecem no terreiro de Yayá, a avó de Maria, e ela é convocada a atravessar o sertão numa noite escura sem fim. No percurso, encontra personagens lendários e encantados.
Permeada dos saberes da cultura brasileira, a narrativa tem estrutura de conto acumulativo, em que os mistérios vão se desvendando aos poucos, e novas companhias vão surgindo a cada curva da caminhada, como que para não nos deixar esquecer do dom de sonhar junto, e da perseverança e do entusiasmo necessários para trilhar o caminho.
“O povo diz que malabar de pensamento
são os inventos que vamos aqui rezar.
Solta o mote, pede o verso, incrementa,
só de pirraça inventamos de rimar.
Nosso rosário é cheinho de bugiganga,
espiga de mio, carretel e mucunã.
Nos três mistérios somos bem fãs de munganga,
Valha Cruz-Credo, São Pitomba e São Tantã.
Nossa reza tem acordo com Caipora,
pede a força ao Papa-Figo,
desenterra até causo de botija,
acode cabinha com dor de umbigo.”
- Livro: Noite de brinquedo.
- Escritoras: Antonia Mattos & Gabriela Romeu.
- Ilustradora: Luci Sacoleira.
- Editora: Peirópolis.
Resenha: O robozinho de madeira e a princesa lenha
Resenha: Doutora Era uma vez
“Eu acho que essa guarda tá mostrando o que ela desenhou e o que ela vai viver imaginando durante o livro!”
Foi assim que um aluno muito querido disso logo que iniciei a mediação de “Doutora Era uma vez”, mais um livro gracioso (e liiindo visualmente!) da Brinque-Book.
Eu amo acompanhar o desenvolvimento das crianças enquanto leitoras e poder visualizar o quanto de seus repertórios vai se ampliando ao longo do ano letivo, de maneira que suas inferências tornam-se cada vez mais pontuais e cheias de segurança, completamente coerentes com suas trajetórias e com as narrativas que leram/ouviram.
A Doutora Era Uma Vez atua no mundo encantado dos contos de fadas. Dentre seus pacientes estão Cinderela ― que machucou o pé quando perdeu o sapatinho ―, Rapunzel ― que está com dor de cabeça de tanto carregar a mãe e o príncipe pelas tranças ― e o Lobo Mau ― que chamuscou o pelo na lareira dos três porquinhos. A rotina da doutora é muito agitada e o número de pacientes só aumenta. Mas, quando a garota fica doente, quem será que cuida dela?
O livro possui muuuitas referências aos textos clássicos e suas ilustrações são um atrativo à parte! As páginas duplas que se abrem “na vertical” são, de longe, as minhas favoritas, divinas!
“Doutora Era uma vez” é uma obra que convida à fabulação, apresentando uma intertextualidade carregada de poesia visual, que nos faz recorrer a nosso próprio repertório a todo momento, cada vez que nos deparamos com uma ou duas figuras que conhecemos. Uma verdadeira ode à imaginação infantil!
As autoras Catherine Jacob e Hoang Giang tornam realidade um dos faz de conta favoritos de muitas crianças: brincar de ser médico. Além disso, conseguem deixar a brincadeira ainda mais divertida ao transformar personagens clássicos da literatura infantil em pacientes, nos convidando a revisitar as suas histórias.
- Livro: Doutora Era uma vez..
- Escritora: Catherine Jacob.
- Ilustradora: Hoang Giang
- Tradutora: Julia Bussius.
- Editora: Brinque-Book.
Resenha: Quatro ladrões
O que acontece quando quatro ladrões profissionais dependem de seu sobrinho distraído para executar um plano mirabolante?
A resposta para a questão acima é: um livro divertidíssimo (mais um!) do incrível Guilherme Karsten (eu AMO “A Caçada” e “Carona”).
Havia cinco ladrões. Eles eram os piores ladrões da cidade. Na verdade, havia quatro… e o sobrinho deles, o Osvaldo, um garotinho muito distraído e que passava o dia todo desenhando.
Na narrativa conhecemos os piores ladrões da cidade. Ladrões profissionais! Daqueles que constam na lista de procurados e tudo o mais. Eles, prestes a executar mais um de seus grandiosos assaltos, contam com o apoio artístico de Osvaldo, o sobrinho.
“Quatro ladrões” é um daqueles livros que diverte e envolve, que capta os leitores desde o momento inicial, pois, assim como os ladrões, que possuem cada um sua responsabilidade (um tem todas as ferramentas, o outro é o mestre dos disfarces, um cuida da segurança e o outro vigia), nós, leitores, ficamos com a melhor das incumbências: acompanhar as estripulias desta trupe!
Li este livro em Praça pública, no distrito de Guaraná, em uma das ações de nosso Espaço de Leitura... como foi delicioso para mim, enquanto mediador, acompanhar as inferências mirabolantes do público tentando prever e imaginar o destino dos quatro ladrões e meio!
Será que esse grupo improvável irá conseguir planejar um grande assalto ao banco? Só esperamos que o Osvaldo não se distraia dessa vez...
Em uma narrativa original e engraçada, Guilherme Karsten nos mostra que, às vezes, as nossas fraquezas podem se mostrar verdadeiros talentos.
- Livro: Quatro ladrões.
- Autor: Guilherme Karsten.
- Editora: HarperKids.
Resenha: A matemática do urso
Resenha: Azul Haiti
Resenha: O jardim da minha Baba
Uma celebração terna e comovente do amor entre gerações, com destaque para a relação entre um neto e sua amada avó.
A relação com os avós retratada nos livros ilustrados é sempre algo que me comove bastante... por aqui, só tive contato e vivência real com minha avó materna [meu avô faleceu quando eu era pequeno e tenho apenas fragmentos do tempo costurados na memória].
Minha avó Isaura e eu passamos por inúmeros momentos em nossa relação. Muitas risadas, muitos cafés compartilhados e uma certa ironia/deboche que, devo confessar, devo ter herdado dela.
Há algum tempo ela fez a travessia do espaço terreno, porém, cada vez mais segue presente e viva em nossos corações numa espécie de nostalgia-ultra-afetiva.
Inspirado nas memórias da infância do poeta Jordan Scott e ilustrado pelo premiado artista Sydney Smith, ”O jardim da minha Baba” é uma história profundamente pessoal que evoca sentimentos universais.
Conheci o BELÍSSIMO trabalho da dupla pelo lindo livro “Eu falo como um rio”, que sempre arranca suspiros. E um outro livro que fez parte de um momento significativo de minha vida foi o “Você se lembra?”, de autoria apenas de Sydney Smith.
“O jardim da minha Baba” explora as imagens, os sons e os cheiros experimentados por um menino que passa as manhãs com sua avó. Ele a visita todos os dias e a encontra em sua pequena casa abarrotada de ingredientes do seu jardim.
A narrativa conduz os leitores a compreenderem como a comunicação vai além das palavras faladas. A prosa poética de Scott capta momentos de profundo significado, enquanto as ilustrações de Smith conferem uma riqueza adicional à narrativa. Uma história rica em empatia, amor e compreensão - que explora temas profundos como imigração, pobreza, perda e fim da vida.
QUAIS SEMENTES TENS PLANTADO EM SEU JARDIM DA VIDA?
- Livro: O jardim da minha Baba.
- Escritor: Jordan Scott.
- Ilustrador: Sydney Smith.
- Tradução: Paula Marconi de Lima.
- Editora: Pequena Zahar.
Rodas de Leitura On-line para Educadores - Julho '25
Resenha: Pedro e Paulo
Quais cores e formas seu jardim lhe oferece?
Outro dia confabulava com uma amiga querida o quanto amo utilizar referências de coisas que me são especiais e ternas [obras de arte, músicas, trechos, memórias, fragmentos...] e o quanto acredito que quem somos hoje é um grande reflexo de tudo aquilo que vivenciamos em nossas jornadas, bem como um emaranhado de referências entrelaçadas que habitam nosso interior afetivo.
Encontrar livros que exploram memórias pessoais e referências artísticas, inclusive, fotografias icônicas como ponto de partida é algo belíssimos, pois, nos deparamos com aquilo que os artistas trazem dentro de si, vivências de infância, paixões acolhidas, expressões apaixonadas... em “Pedro e Paulo”, Fábio Severino propõe diálogos deslumbrantes com sua obra e referências de suas vivências artísticas.
Quais músicas e instantes tens eternizado?
Pedro cultiva flores de todas as cores e formatos. Para ele, seu jardim é o mais lindo do mundo. Ele ama profundamente a natureza.
Paulo, seu vizinho, eterniza as flores cultivadas por Pedro nos quadros que pinta e coleciona. Ele ama intensamente a Arte.
A vida transcorre em harmonia, até que esse magnífico lugar começa a atrair visitantes curiosos, turistas, artistas e pesquisadores que vão transformar para sempre o modo de vida da pacata região e o destino de seus primeiros habitantes.
“Pedro e Paulo” é uma verdadeira obra de arte, onde as cores transcendem os limites das páginas, nos inundam e transbordam em questionamentos: onde mora o silêncio? Onde as flores sussurram? Que silêncios moram numa tela em branco? O QUE VOCÊ TEM CULTIVADO NO MUNDO?
*Na terça-feira, 22 de julho, teremos Roda de Leitura On-line desta obra, ao vivo pelo Meet; confira o link na bio!
- Livro: Pedro e Paulo.
- Autor: Fábio Severino.
- Editora: JOAQUINA.
Resenha: Doze profissões para o futuro que começou ontem
O mundo está mudando.
Você é capaz de imaginar quais são as profissões do futuro que começou ontem?
Há vagas para todas as crianças!
Atualmente muito tem se falado sobre estarmos “formando crianças para profissões que ainda nem existem”, mas, eu gosto de refletir e pensar que, primeiramente, não as formamos, elas JÁ SÃO. Nós, enquanto educadores, apenas podemos contribuir oportunizando as melhores experiências e vivências para que elas aprimorem, potencializem e aperfeiçoem um olhar que seja, simultaneamente, crítico-reflexivo e afetivo.
Vejo, diariamente, o quanto nós, enquanto adultos, falhamos, cerceando a poesia das infâncias, o olhar livre e toda sabedoria que é tão típica do universo infantil...
Em “Doze profissões para o futuro que começou ontem”, Anderson Novello nos convida a olhar para dentro para podermos [re]enxergar o que está à nossa volta, trazendo, com uma sensibilidade incrível, reflexões que vão desde o espírito brincante, passando pelas [des]importâncias e em que depositamos nossas energias e tempo.
“Estamos contratando. Há vagas para:
> Doadores de tempo (com habilitação em criação de brincadeiras).
> Pacificadores (desejável experiência em acalmar desassossegos).”
Impossível sair ileso e, mais ainda, não se pegar sorrindo e refletindo consigo mesmo como tens vivido sua vida, o que tem se permitido e, principalmente, será que tens enxergado as sutilezas poéticas que te rodeiam?
*as ilustrações são um SHOW à parte, com INÚMERAS referências que vão desde o Universo Literário à Cultura POP!
- Livro: Doze profissões para o futuro que começou ontem.
- Escritor: Anderson Novello.
- Ilustrador: Daniel Cabral.
- Editora: Ciranda na Escola.
Confabulando com André Neves 🖤 18/06/25
André Neves rega com cuidado imagens e palavras para revelar a beleza delicada das emoções que deveriam florescer em todas as relações afetivas.
Seus textos têm caráter sensível e poético, com imagens particulares e criativas, para provocar uma explosão de cores na imaginação, no coração e na vida de todos os leitores.
Seus livros promovem um vendaval de imaginação que embaralham a fantasia. Nesse tempo atribulado com tantas coisas, o sonho pode deixar a vida mais doce.
André neves é assim, cheio de faces, cores e sabores. E nos torna doces, como mel na boca e riso de criança. Sua imaginação é como água. Que escorre pelos recôncavos de nossas almas, inunda os corações e nos transborda em estado de poesia.
🖤 https://www.instagram.com/neves.ilustra/














