O leão e as outras feras

O leão e as outras feras
(fábula adaptada por Helder Guastti)
 
Reprodução Google Imagens
          O leão era muito temido por todos os animais da selva. Ninguém ousava contrariá-lo, pelo contrário, todos acatavam suas ideias e decisões, por mais absurdas que fossem.
          Numa tarde, entediado porque não tinha nada de novo para fazer, o leão resolveu se divertir à custa dos outros.
          Convocou três outras feras, a hiena, a onça pintada e a pantera, para juntos irem caçar. Com medo de contrariar o leão, as outras feras aceitaram imediatamente o convite, apesar de acharam que algo estranho estava acontecendo, pois, o leão era conhecido por ter várias características, mas a simpatia não era uma delas.
          Chegando numa clareira, no meio da selva, avistaram um veado pastando. O leão, utilizando seu tom mais autoritário, dirigiu-se às companheiras e disse:
          - Agora vão! E tragam-me aquele veado que, por sinal, parece ser apetitoso. Depois farei a divisão por quatro.
          A hiena, a onça pintada e a pantera avançaram para cima da presa, derrubando-a num único ataque.
          Ao retornaram para perto do leão, a pantera não se aguentou e sussurrou para as companheiras:
          - Isso não está me cheirando bem...
          - Como não!? Esta carne está com um cheiro ótimo! – exclamou a hiena, sempre sorridente.
          - Não é isso que eu quis dizer sua tonta! O que não estou conseguindo entender são as intenções do leão. Primeiro nos chama para caçar, depois age como rei da selva e não move uma pata para ajudar.
          A onça, que carregava o veado morto com a boca, limitou-se a concordar com um aceno de cabeça.
          Cada vez mais próximas do leão, as feras ficaram em silêncio, aproximando-se cautelosamente.
          O leão tomou a presa, repousando uma das patas sobre ela enquanto, com a outra, repartia os quatro pedaços, dizendo:
          - Vamos à partilha companheiras! O primeiro pedaço é meu, é claro, porque é meu por direito. O segundo também é meu, porque sou o soberano, o rei de tudo e de todos.
          - Mas isso não é... – tentou protestar a pantera, sendo prontamente interrompida pelo leão:
          - Calada súdita! Ou minha fúria cairá sobre ti! Agora, continuando: o terceiro pedaço vocês me darão de presente, em homenagem a minha grandeza, sabedoria, coragem e destreza. Já o quarto e último pedaço... Sintam-se livres para vir disputá-lo comigo, prometo que não vou pegar pesado.
          As outras feras puseram os rabinhos entre as pernas, abaixaram as cabeças e seguiram seu caminho.
          Enquanto o leão se deleitava naquele banquete, fazendo barulhos de prazer e satisfação, as feras ouviam apenas uma melodia melancólica e opressora: os sons de seus estômagos roncando.


          Moral: nunca forme uma sociedade sem primeiro saber como será a divisão dos lucros.

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