O leão e as outras feras
(fábula adaptada por
Helder Guastti)
O leão era
muito temido por todos os animais da selva. Ninguém ousava contrariá-lo, pelo
contrário, todos acatavam suas ideias e decisões, por mais absurdas que fossem.
Numa tarde,
entediado porque não tinha nada de novo para fazer, o leão resolveu se divertir
à custa dos outros.
Convocou três
outras feras, a hiena, a onça pintada e a pantera, para juntos irem caçar. Com
medo de contrariar o leão, as outras feras aceitaram imediatamente o convite,
apesar de acharam que algo estranho estava acontecendo, pois, o leão era
conhecido por ter várias características, mas a simpatia não era uma delas.
Chegando numa
clareira, no meio da selva, avistaram um veado pastando. O leão, utilizando seu
tom mais autoritário, dirigiu-se às companheiras e disse:
- Agora vão!
E tragam-me aquele veado que, por sinal, parece ser apetitoso. Depois farei a
divisão por quatro.
A hiena, a
onça pintada e a pantera avançaram para cima da presa, derrubando-a num único ataque.
Ao retornaram
para perto do leão, a pantera não se aguentou e sussurrou para as companheiras:
- Isso não
está me cheirando bem...
- Como não!?
Esta carne está com um cheiro ótimo! – exclamou a hiena, sempre sorridente.
- Não é isso
que eu quis dizer sua tonta! O que não estou conseguindo entender são as
intenções do leão. Primeiro nos chama para caçar, depois age como rei da selva
e não move uma pata para ajudar.
A onça, que
carregava o veado morto com a boca, limitou-se a concordar com um aceno de
cabeça.
Cada vez mais
próximas do leão, as feras ficaram em silêncio, aproximando-se cautelosamente.
O leão tomou
a presa, repousando uma das patas sobre ela enquanto, com a outra, repartia os
quatro pedaços, dizendo:
- Vamos à
partilha companheiras! O primeiro pedaço é meu, é claro, porque é meu por
direito. O segundo também é meu, porque sou o soberano, o rei de tudo e de
todos.
- Mas isso
não é... – tentou protestar a pantera, sendo prontamente interrompida pelo
leão:
- Calada
súdita! Ou minha fúria cairá sobre ti! Agora, continuando: o terceiro pedaço
vocês me darão de presente, em homenagem a minha grandeza, sabedoria, coragem e
destreza. Já o quarto e último pedaço... Sintam-se livres para vir disputá-lo
comigo, prometo que não vou pegar pesado.
As outras
feras puseram os rabinhos entre as pernas, abaixaram as cabeças e seguiram seu
caminho.
Enquanto o
leão se deleitava naquele banquete, fazendo barulhos de prazer e satisfação, as
feras ouviam apenas uma melodia melancólica e opressora: os sons de seus
estômagos roncando.
Moral: nunca
forme uma sociedade sem primeiro saber como será a divisão dos lucros.
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