O Sapo e o Boi ♥ Confabulando § Seja sempre você mesmo!

[...] Esta fábula talvez não seja tão conhecida quanto "A Cigarra e a Formiga", porém, sua moral é uma das mais realistas e pertinentes para a sociedade em que vivemos.

    Estamos num mundo cheio de padrões e estigmas que carregamos desde muito pequenos. Somos "ensinados" a buscar a perfeição, a almejar aquilo que, geralmente, está bem longe de nosso alcance.

    Acho muito louvável atitudes que venham desconstruir padrões e mostrar para os pequenos que ser diferente é sim muito legal! As diferenças, singularidades e particularidades que cada um de nós temos em nosso interior, são o que nos fazem seres únicos. E são as diferenças que fazem do mundo um lugar tão excepcional de se viver. Afinal, que graça teria se fôssemos todos iguais uns aos outros?

    O dia em que fiz a leitura desta adaptação para minha turma foi muito engraçado, quando terminei a fábula estávamos todos rindo bastante, apesar do desfecho trágico do sapo Arthur.    

    Em minha adaptação escrevi um personagem que, não satisfeito com a adoração que recebia por parte de seus companheiros, resolve tentar se tornar algo que não é, e o resultado dessa ânsia (e, por que não, de recalque) faz com que ele acabe se transformando em algo inimaginável...

[...]

O sapo e o boi
(fábula adaptada por Helder Guastti)



          Na parte central da floresta havia um riacho. Um grupo de sapos que vivia ali por perto adorava passar as tardes à beira do pequeno rio, cantando e caçando moscas.

          Uma tarde de tempo fresco e agradável, o grupo de gosmentos esverdeados, liderados por Arthur falador, repousava com as patinha dentro d’água. Eles riam, contavam piadas envolvendo mosquitos e lavadeiras, lançavam litros de cuspe quando botavam a língua para fora, enfim, estavam curtindo a boa vida de anfíbios.

          Arthur falador, conhecido em toda floresta por ser o menestrel dos animais, contador de histórias e repentista, cantor nas horas vagas e o maior piadista da beira do rio; estava no meio de uma história sobre Cururu, o sapo lendário, quando avistou na outra margem do riacho um boi de grande porte bebericando um pouco de água.

          - O lendário Cururu na beira do rio, quando sapo canta é porque... – interrompeu a história no meio e apontou para o outro lado do riacho. Com os olhos arregalados e a bocarra aberta, disse aos companheiros:

          - Vejam meus amigos! Que criatura maravilhosa! A elegância e o charme que ele demonstra ao beber água são excepcionais. Nunca vi algo assim. Ele parece um deus grego!

          Os outros sapos que ouviam tudo que Arthur falador dizia com uma admiração inexplicável, balançaram a cabeça em concordância aos devaneios do líder.

          - Querem saber de uma coisa: não vou tolerar uma coisa dessas em meu riacho! Vejam como eu consigo ficar maior e mais elegante que ele!

          O falador começou a inflar e inflar e inflar e perguntou aos colegas com os olhos esbugalhados:

          - Já estou do tamanho dele?

          Os sapos balançaram a cabeça negativamente, enquanto Arthur falador seguia inflando e inflando cada vez mais.

          Ploft!

          Um barulho chegou aos ouvidos de todos ali presentes. Pedaços verdes e gosmentos acertaram os sapos nos olhos; um que estava com a bocarra aberta acabou engasgando com um fragmento do falecido.

          Um pedacinho de Arthur falador voou como uma mosca até o outro lado da margem, caindo em frente ao boi. A elegante criatura levantou o olhar e viu os anfíbios desesperados coaxando do outro lado. Preferiu não se envolver, baixou os olhos e seguiu bebericando a água majestosamente.

          Moral: seja sempre você mesmo.


Um comentário:

  1. Detalhe: mesmo que esteja sentindo-se na pior, seja você mesmo!!! Amo essa fábula!!! Quantos não dariam tudo para ser quem somos??? Essa é para refletir!!!

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